Os filhos podem seguir seus caminhos, mas o amor dos pais permanece como um porto seguro
A “teoria dos ex-filhos” reflete sobre o inevitável afastamento que ocorre nas relações entre pais e filhos ao longo da vida. Trata-se de um processo natural, mas paradoxal, em que os pais deixam de ocupar o centro da vida dos filhos e passam a ser figurantes na história que ajudaram a construir.
Na infância e juventude, a relação entre pais e filhos é marcada por dependência emocional, social e até existencial. Os pais são a base de segurança e referência, os primeiros confidentes e os guias em decisões cruciais. No entanto, com o amadurecimento dos filhos, ocorre uma mudança de prioridades: o foco deles se desloca para si mesmos e suas novas conexões (amizades, relacionamentos amorosos, vida profissional).
Princípios da teoria:
- Transição da centralidade:
Os pais, que antes eram o “primeiro plano” da vida dos filhos, gradualmente se tornam coadjuvantes. Essa transição ocorre na adolescência, intensifica-se na juventude e se consolida na vida adult. - Intimidade perdida:
Com o passar do tempo, os filhos deixam de compartilhar pensamentos, sonhos e problemas com a mesma frequência ou profundidade. A intimidade se dilui, dando lugar a relações mais pontuais, muitas vezes mediadas por obrigações sociais (datas comemorativas, encontros familiares e sepultamento). - A prioridade do “eu”:
Com o tempo, os filhos reorganizam suas prioridades emocionais e sociais, dando espaço para novos vínculos e desafios. Esse processo muda a dinâmica com os pais, que deixam de ocupar o papel central no universo emocional dos filhos. O laço, embora ainda existente, se transforma: os pais se tornam figuras de referência amorosa à distância, enquanto os filhos constroem suas próprias histórias. - O espaço dos terceiros:
Novos personagens entram na narrativa: amigos, colegas de trabalho, parceiros românticos e até os próprios filhos que os ex-filhos venham a ter. O tempo e a atenção que antes eram dedicados aos pais passam a ser distribuídos entre esses outros vínculos. - A paradoxal sobrevivência do afeto:
Apesar do distanciamento, o amor entre pais e filhos permanece, mas assume outra forma. Não é a presença constante ou o compartilhamento diário que sustenta o laço, mas sim memórias e um amor que, mesmo silencioso, é inabalável.
Os filhos nunca deixam de ser filhos, mesmo quando seguem seus caminhos e criam suas próprias histórias. O distanciamento não é falta de amor, mas o reflexo de um ciclo natural: os pais criam asas para os filhos voarem, ainda que, no silêncio, sintam saudade do ninho cheio.
Ser pai ou mãe é aprender a amar sem exigir presença constante, é compreender que o vínculo não se mede pela frequência das visitas ou das ligações, mas pela certeza de que, em algum lugar, aquele amor plantado floresce de formas invisíveis.
Para meus queridos “ex-filhos”, Juliane Sanches e Samuel Sanches, que nunca deixam de ser meus maiores orgulhos, mesmo que a vida nos coloque em novos papéis.
Chamo vocês assim, brincando, porque sei que cresceram e construíram suas próprias histórias. Mas, no fundo, vocês sempre serão parte de mim, e meu coração será para sempre o lar onde o amor de pai/mãe permanece intacto, esperando por vocês.
Com amor e um sorriso,
Ivan Rodrigues da Rocha