Mulheres homossexuais são mais propensas a matar?

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A questão levanta discussões complexas e sociais, envolvendo estereótipos, violência e a persistência de preconceitos. Casos recentes têm acendido os holofotes sobre o tema, sugerindo que uma suposta associação entre orientações sexuais e propensão a atos violentos é simplista, enviesada e perigosamente redutora.

Caso 1: O assassinato do advogado em Sergipe

Daniele Barreto e Adriágina de Souza Cavalcante

José Lael de Souza Rodrigues Júnior foi assassinado em Aracaju, em 17 de outubro, após tentar flagrar um caso extraconjugal da esposa, a médica Daniele Barreto, com uma amiga. Imagens de câmeras mostram o momento em que ele foi morto a tiros. Daniele está presa por suspeita de envolvimento no crime, que segundo a Polícia Civil, foi um desdobramento de um relacionamento turbulento. A tragédia, no entanto, não prova uma tese de periculosidade ligada à sexualidade, mas sim à complexidade das relações humanas, repletas de ciúmes e ressentimentos.

Caso 2: Beijo antes do homicídio em Praia Grande

Marcelly e Rafaela, investigados pelo homicídio contra o comerciante Igor Peretto — Foto: Reprodução e Redes sociais

Rafaela Costa da Silva, viúva de Igor Peretto, e Marcelly Peretto, irmã da vítima, mantinham um relacionamento íntimo. Ambas foram presas, suspeitas de envolvimento no homicídio. Uma relação afetiva marcada por contradições e tensão foi exposta nas redes sociais. É um cenário de crime passional, que transcende a orientação sexual das envolvidas e revela muito mais sobre conflitos interpessoais.

Caso 3: Tortura e morte de uma criança no RS

O menino Miguel dos Santos recebeu alta dosagem de sedativos da própria mãe, que colocou corpo do menino em mala e jogou em um rio do Litoral Norte do RS.

O assassinato brutal de Miguel dos Santos, torturado e morto pela própria mãe, Yasmin Vaz dos Santos, e sua companheira em Imbé, Litoral Norte, destaca um horror extremo. Mais uma vez, não é a sexualidade que deveria estar em julgamento, mas a crueldade individual e a degradação dos laços familiares que levaram a um ato tão hediondo.

Caso 4: Crime familiar em Santo André

Romuyuki Veras Gonçalves, de 43 anos, sua mulher, Flaviana de Meneses Gonçalves, de 40, e o filho deles, o estudante Juan Victor Gonçalves, 15; mortos pela filha e sua companheira.

Anaflávia Martins e sua companheira, Carina Ramos, estão entre os acusados pelo assassinato brutal de uma família inteira. O crime teve motivações que incluem disputas financeiras e relações familiares desestruturadas. O ponto central não é a orientação sexual das envolvidas, mas o grau de ruptura emocional e moral presente na ação.

Para onde apontamos o dedo?

A psicóloga Marcela Villagem, em entrevista ao S&DS, alertou para os riscos de generalizações. “Afirmar que mulheres homossexuais têm maior propensão a atos cruéis em comparação a mulheres heterossexuais é estigmatizar sem nenhum embasamento científico. Violência é uma manifestação de desajustes emocionais e contextuais, não de orientações sexuais”, afirmou.

Em Águas Claras, um casal de mulheres trouxe outra perspectiva. Adriana Ferreira, 27 anos, e Kelen da Silva de 32, ouvidas por S&DS expuseram que os sentimentos de ciúme, proteção e possessividade existem em qualquer relação amorosa. “Se uma outra mulher brincar com meus sentimentos, a situação não ficaria amigável”, declarou Kelen.

Por que ainda insistimos em culpar a sexualidade?

O foco em uma narrativa que vincula orientação sexual e violência reflete preconceitos enraizados. Discussões sobre violência e relações tóxicas deveriam transcender orientações e se concentrar em motivações humanas universais, como ciúmes, poder e disputas emocionais. Precisamos desafiar a tentação de criar categorias para o mal e, em vez disso, abordar as causas reais que levam ao crime.