A trajetória da família Bolsonaro na política brasileira parece destinada a continuar em expansão. Com a possibilidade de Michelle Bolsonaro concorrer ao Senado pelo Distrito Federal, o ex-presidente Jair Bolsonaro pode estar se aproximando de consolidar uma espécie de dinastia política.
A eventual candidatura de Michelle coloca a ex-primeira-dama em uma disputa de peso, o que não é novidade para uma família acostumada a manobrar dentro das engrenagens do poder.
A relação de Michelle com o cenário político começou em 2007, quando se tornou secretária parlamentar de Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Apenas nove dias após assumir o cargo, o casal assinou um acordo pré-nupcial, selando o que seria também uma união política de peso. Em 2008, Michelle deixou o cargo devido a uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que reforçou a proibição de nepotismo na administração pública. Mesmo assim, o caminho para uma futura atuação na política nacional parecia ser uma questão de tempo.
A candidatura de Michelle ao Senado vem sendo articulada em um momento em que o nome dela ainda desfruta de popularidade junto a segmentos conservadores e evangélicos, bases políticas chave do ex-presidente, embora seja católico. Para Bolsonaro, o movimento é estratégico: fortalecer o clã político em momentos em que sua própria popularidade oscila, ao mesmo tempo em que prepara o terreno para futuras investidas.
“São duas vagas e três nomes fortes. Um sobraria. E ninguém quer sobrar. E, na reta final, temos experiência, por exemplo, o Alberto Fraga. Lá atrás, foi o deputado mais votado aqui do DF, veio candidato ao governo, não conseguiu êxito e ficou quatro anos sem mandato. E ele mesmo diz: é difícil a vida de um parlamentar, como era benquisto aqui, bem votado, ficar sem mandato. A Bia Kicis não quer isso. O Ibaneis também não quer. A Michelle também não quer, mas ela nunca sentiu o gosto do poder, então para ela pode ser menos traumático. Mas quem vai decidir é o povo brasileiro. Eu acredito, caso a Michelle venha candidata, que ela seja beneficiada com uma dessas vagas”, afirmou o ex-presidente na entrevista, concedida na terça-feira (12/11), ao jornalista Igor Gadelha.
O histórico da família na política já impressiona. Os filhos Flávio, Carlos, Eduardo e agora Jair Renan ocupam cargos relevantes, desde o Senado até câmaras municipais. O estilo combativo e a polarização que caracterizam a atuação do grupo Bolsonaro são evidentes. Caso Michelle seja eleita, ela deve reforçar a narrativa de continuidade e proteção dos valores que a família prega, em um ciclo que parece inabalável para seus apoiadores e profundamente criticado por seus opositores.
Resta saber se o eleitorado brasileiro continuará comprando a ideia de uma família no centro da política nacional. As movimentações em torno do futuro político da jovem Laura, filha mais nova, mostram que, se depender da visão do ex-presidente, a permanência da família no poder é mais do que um projeto: é uma herança a ser mantida.