Raniele Lima, de 22 anos, afirma que foi agredida após questionar abordagem a marido, que conduzia moto sem habilitação. Policial diz que se defendeu de ataque e que reação foi ‘necessária, moderada e suficiente’.
Uma jovem de 22 anos levou um soco na boca de um policial militar, após uma confusão durante uma abordagem, no bairro Residencial do Bosque, em São Sebastião, no Distrito Federal. O caso ocorreu na quarta-feira (5) e está sendo investigado pela Polícia Civil.
Raniele da Silva Lima afirma que estendia roupas quando PMs entraram na casa onde ela mora com o marido, Alessandro Inácio de Jesus, de 22 anos. Os policiais acusavam o jovem, que não é habilitado, de dirigir uma moto de forma imprudente e fugir de uma abordagem.
Segundo Raniele, o policial a agrediu depois que ela questionou o motivo de a equipe ter entrado, sem autorização, na casa. Já o terceiro sargento Daniel Martins Borges, que desferiu o soco, disse em depoimento que duas mulheres “partiram pra cima” dele, tentando dar “socos e chutes”. E que para “repelir a agressão acabou desferindo um soco, sem saber até mesmo quem tinha acertado”.
Por causa das lesões, Raniele passou por exames no Instituto de Medicina Legal (IML). A mão do policial também ficou ferida após o soco (veja foto abaixo). O PM alegou que “a reação foi necessária , moderada e suficiente, cessando após ter repelido a injusta agressão que sofria”.
O caso está sendo apurado pela 30ª Delegacia de Polícia, em São Sebastião. O g1 questionou a PM, mas não recebeu resposta até a última atualização deste texto. A reportagem também tentou localizar o terceiro sargento ligando no número fixo do batalhão, sem sucesso.
Versão da PM
A confusão começou por volta das 13h. Segundo o PM, ele e os colegas receberam informações “sobre possíveis adolescentes praticando direção perigosa” e foram averiguar. A equipe disse ter encontrado um grupo de cinco motociclistas e que, ao se aproximar para fazer a abordagem, eles se dispersaram.
O terceiro sargento afirmou que ele e os colegas passaram a seguir Alessandro, mas que ele “fugiu em alta velocidade, cortando veículos, faixas de pedestres, ultrapassando semáforos fechados, tudo em locais com grande movimentação e concentração de pessoas”.
Segundo o militar, a equipe seguiu o rapaz até a casa, onde a confusão ocorreu.
Versão da família
Já Alessandro disse na delegacia que, na altura da rotatória do terminal rodoviário de São Sebastião, sentiu uma pancada na moto, ficou assustado e “acelerou a motocicleta pensando que poderia ser algum motorista querendo lhe derrubar”.
Ele afirmou que chegou a olhar para o retrovisor, mas não escutou barulho de sirene e também “não percebeu se alguma viatura estava seguindo ou dando ordem de parada”.
Alessandro disse que chegou em casa, estacionou a moto e, minutos depois, escutou gritos da companheira e um homem dizendo “Sai da frente, p*”. Ele afirma que não imaginou que se tratava de um policial militar. Por isso, “pensou que alguém poderia querer matá-lo” e decidiu fugir.
Após ser agredida, Raniele foi até a casa da cunhada, a dona de casa Amanda Rosa, para pedir ajuda. A irmã de Alessandro disse ao g1 que ele trabalha com entrega de comida durante o dia, mesmo sem habilitação, o que é proibido, e atua como chapeiro em uma lanchonete à noite.
Ela afirma que todos “foram tratados como bandidos”. “O policial já desceu da viatura e foi entrando na casa, gritando e com arma na mão. Minha cunhada tentou questionar o que estava acontecendo, mas foi logo agredida”, diz Amanda.
“Entrei para perguntar o que estava acontecendo e o PM foi super áspero, grosso. Nenhum outro policial lá fez isso. Ele chegava perto de mim falando baixinho, me chamando de ‘peba’, querendo fotografar meu rosto e dizendo que ia me prender. Eu comecei a gritar para todo mundo ouvir: ‘Então me prenda! Não é porque ele está de farda que tem direito de tratar a gente assim'”, diz Amanda.
A moto usada por Alessandro foi apreendida e levada pra o 21º Batalhão da PM de São Sebastião. Segundo relato do sargento Daniel, o veículo foi apreendido “para aplicação das multas e posterior recolhimento ao pátio do Detran”.
g1 DF.