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A técnica é focada na prevenção e no combate às feridas de difícil cicatrização, que obrigam as pessoas a ficar de cama por muito tempo. Tratamento direcionado ajuda a apressar a cura


Silvia Pacheco do Correio Braziliense

A aposentada Maria de Lurdes, 88 anos, é atendida pelo enfermeiro Jair: em três meses, ela superou a dor aguda que a impossibilitava de andar

Há quatro anos, Marino Gonche, 77 anos, sofre com feridas nos pés que não cicatrizam. As úlceras, provocadas pelo diabetes tipo 2, acometeram os dois pés. Foi preciso uma cirurgia, na qual foram retiradas as solas dos membros. A partir daí, a vida do aposentado mudou severamente. De um homem ativo e independente, Marino se tornou um paciente que vive em cima de uma cama, completamente dependente. Porém, há um ano, o aposentado é assistido por uma enfermeira dermatológica, o que lhe fez ter esperanças de que logo poderá voltar a andar e sair da cama. “Depois que comecei a ser atendido pela enfermeira, meus pés melhoraram. O esquerdo está com a ferida cicatrizada, mas o direito ainda não”, relata Marino. “Tenho fé em Deus que essa moça vai me curar”, espera. 


A esperança do aposentado se iguala à de inúmeras pessoas que convivem com úlceras provocadas por doenças, como o diabetes, acidentes, queimaduras e etc. Graças à enfermagem dermatológica(1), elas têm uma expectativa maior de retornar às suas vidas normais. No dia a dia dos hospitais e dos leitos residenciais, é essa especialidade da enfermagem que ajuda a trazer de volta a qualidade de vida para pacientes que, como Marino, sofrem com feridas de difícil cicatrização. “Pessoas que são tratadas pela enfermagem dermatológica têm um processo mais rápido de cura”, afirma Francisco Le Voci, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e dermatologista do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. 


Paula cuida de Marino Gonche, 77 anos: um ano de melhora contínua

Esses profissionais se especializam na área e adquirem conhecimentos de materiais usados no tratamento dermatológico. São capazes de avaliar a ferida e prescrever os produtos que melhor podem auxiliar na cicatrização e recuperação da pele. “Os registros feitos pela enfermagem dermatológica são de importância fundamental para os médicos, pelas informações que representam. Incluem a avaliação do estado clínico do doente, o conhecimento da progressão da doença, as decisões tomadas e os procedimentos adotados”, pontua Le Voci. 


A enfermeira Paula Herrman, que cuida de Marino, afirma que, com tratamento assistido, o paciente melhora mais rápido, pois há uma observação cuidadosa da evolução do problema com os produtos utilizados. “Na maioria das vezes, são pacientes acamados, que não podem ir ao consultório para o médico avaliar a ferida. Nós vamos à casa dele, avaliamos o problema, anotamos a evolução do tratamento e orientamos o cuidador como devem ser as trocas dos curativos e quais os materiais para aquela situação.” É isso que Paula faz pelo menos uma vez por semana com Marino. “Há um ano, ele não colocava os pés no chão por conta das feridas, que chegavam ao osso. Hoje, ele fica de pé, com a ajuda de uma órtese, e ensaia alguns passos. É uma alegria para ele e para mim também”, conta a enfermeira. 

Prevenção 

Além de promover a recuperação mais rápida da pele e dos tecidos atingidos pelas úlceras, a enfermagem dermatológica tem o papel de ajudar a prevenir o aparecimento de feridas, o que é crucial para pacientes acamados. Geralmente, essas pessoas estão bastante debilitadas e precisam de cuidados intensivos. Ficam praticamente o tempo todo na cama, seja no hospital ou em casa. “Essas pessoas precisam de um profissional especializado, obviamente sob orientação médica, para o tratamento dessas feridas. No caso de uma pessoa diabética, por exemplo, com um quadro intenso e uma evolução antiga, que começa a desenvolver úlceras, o enfermeiro dermatológico consegue avaliá-las e tratá-las no início, evitando que o quadro se agrave”, diz o dermatologista do Hospital Albert Einstein. 

Dessa forma, do mesmo jeito que esses profissionais avaliam uma ferida já aberta, eles também sabem diagnosticar quando a ferida está para abrir. “Pacientes que estão há muito tempo acamados desenvolvem úlceras por pressão. A pele fica avermelhada e em seguida a ferida se abre. Se observamos a pele nessa fase inicial, tratamos antes de ela abrir. Para isso, não precisa a presença do médico”, diz o presidente da Sociedade Brasileira de Enfermagem, Feridas e Estética (Sobenfee) no Distrito Federal, Jair Gomes de Paiva Júnior. 
Essas lesões ocorrem porque os pacientes acamados, tanto no hospital quanto em casa, precisam ser trocados de posição a cada duas horas, o que acaba sendo difícil de acontecer nos hospitais, pelo baixo número de enfermeiros e auxiliares. “Se essas feridas não forem tratadas logo, elas infeccionam e podem evoluir para escaras — tecido morto dentro da ferida”, explica Jair. 
A aposentada Maria de Lurdes Souza Lima, 88 anos, quase desenvolveu uma escara. Enquanto se recuperava de uma cirurgia de varizes na perna direita, ela se feriu. Como a maioria das pessoas, a aposentada tentou curar-se com produtos caseiros. O resultado foi uma infecção, que a levou a um médico. Maria de Lurdes chegou ao Centro de Saúde da Candangolândia com uma ferida grau III, muito infeccionada. O médico passou um antibiótico e a ferida começou a ser tratada pela enfermagem dermatológica. Um trabalho em conjunto, que conseguiu, após três meses, fazer com que a inquieta Maria de Lurdes voltasse à vida normal. “No começo, doía muito. Agora, não sinto mais nada. Voltei a andar e a cuidar das minhas plantas”, comemora a aposentada. “Por uma ferida menor, minha tia perdeu a perna”, conta o filho de Maria de Lurdes. 
No caso da aposentada, o trabalho da enfermagem dermatológica conseguiu diminuir o tempo de troca dos curativos. “Isso faz com que ela se desloque menos de casa e a recuperação se torne mais rápida”, afirma Jair. 
A realidade na maioria dos hospitais e clínicas — e mesmo nas residências — é diferente da ideal. O número de pessoas especializadas em enfermagem dermatológica ainda é pequeno. Isso faz com que técnicos e auxiliares absorvam o trabalho, o que, na maioria das vezes, não tem um resultado positivo, fazendo com que o quadro do paciente se agrave. “Não culpo o sistema de saúde. O que falta são pessoas comprometidas e interessadas, que desejem se capacitar”, analisa Jair.