Central de Reciclagem do Varjão é uma das 11 contratadas pelo SLU; no local, 39 famílias garantem renda mensal de até um salário mínimo
Marlene Gomes, da Agência Brasília | Edição: Saulo Moreno
Na entrada do Varjão, caminhões despejam em um galpão, diariamente, 3,8 toneladas de um material valioso. São plásticos, papéis, papelões, garrafas pet e tudo o mais que pode ser reaproveitado. Trabalhadores com olhos treinados e mãos rápidas separam os materiais para a reciclagem. O serviço minucioso assegura o sustento de 39 famílias da Central de Reciclagem do Varjão (CRV), uma das 11 cooperativas de catadores contratadas pelo Serviço de Limpeza Urbana (SLU) para executar a tarefa.
A associação coleta e recicla mensalmente cerca de 90 toneladas de materiais recolhidos nas quadras residenciais e comerciais do Varjão e do Lago Norte. “Coletamos muito lixo. Parece que, com a pandemia, as pessoas estão mais em casa e o lixo aumentou bastante”, analisa a presidente da CRV, Ana Carla Borges.
“O SLU tem contrato de coleta seletiva tanto com as empresas quanto com as cooperativas, mas o resultado final de aproveitamento dos recicláveis só é positivo se todos nós fizermos nossa parte. É importante a separação correta, pois muitas famílias dependem da comercialização dos recicláveis para garantir renda e comida na mesa”Sílvio Vieira, diretor-presidente do SLU
Fundada em 2008, a CRV começou a operar como uma entidade somente de mulheres. Em 2020, no entanto, a presidente da associação passou a permitir a presença de homens. Atualmente, são 25 mulheres e 14 homens para separar e armazenar o que pode ser reaproveitado. O trabalho diário, que é pesado e anotado em uma planilha, pode render até um salário mínimo por mês, para cada funcionário, de acordo com a produção.
“O SLU tem contrato de coleta seletiva tanto com as empresas quanto com as cooperativas, mas o resultado final de aproveitamento dos recicláveis só é positivo se todos nós fizermos nossa parte. É importante a separação correta, pois muitas famílias dependem da comercialização dos recicláveis para garantir renda e comida na mesa”, afirma o diretor-presidente do SLU, Sílvio Vieira.
Certificação em eletroeletrônicos
A CRV está capacitada para receber, coletar e triar todo tipo de reciclável, inclusive resíduos eletroeletrônicos. Há equipamentos que possuem metais pesados, como chumbo e mercúrio, que podem causar transtornos ao meio ambiente. Particularidades como essa exigem muitos cuidados para que a reciclagem possa ser feita de forma segura, para os trabalhadores e para o meio ambiente.
Para a cooperativa ser certificada na destinação correta do material, os integrantes participaram de cursos de reciclagem de lixo eletrônico, realizados pelo Instituto GEA Ética e Meio Ambiente e pelo Laboratório de Sustentabilidade da Universidade de São Paulo (Lassu-USP).
“Aprendemos a fazer o desmanche das placas com muita atenção e cuidado. Elas são desmontadas, separadas e colocadas em sacos específicos”, explica a presidente da CRV, Ana Carla Borges.
O lixo eletroeletrônico, por sinal, tem sido uma boa fonte de recursos para aumentar a renda da cooperativa. Micro-ondas, aparelhos celulares, computadores, tablets e televisores possuem um preço diferencial no mercado. “Dá para cada catador receber até R$ 600, dependendo da quantidade do material selecionado. Foi assim que conseguimos comprar o nosso terceiro caminhão para fazer a coleta seletiva”, comemora Ana Carla.
De olho no potencial econômico da coleta seletiva, a cooperativa promove campanhas no Varjão e Lago Norte para incentivar o descarte correto dos eletroeletrônicos. Uma ação direcionada como essa pode significar o recolhimento de até duas toneladas do material num único dia.
“Consigo tirar até R$ 900 por mês. Já sou conhecida no Varjão e recebo muita coisa na porta de casa, na Quadra 6. Não jogo nada fora. Trago tudo para a cooperativa para ajudar na minha produção”Dalva Alves da Silveira, catadora de recicláveis
Reconhecimento e respeito
Aos 56 anos de idade, Dalva Alves da Silveira já não contabiliza o tempo de trabalho como catadora de lixo. No entanto, lembra bem que, com os recursos recebidos no exercício da atividade, conseguiu criar os seis filhos.
Orgulhosa por estar devidamente registrada no INSS, Dalva se envaidece também com o reconhecimento e respeito de vizinhos e até desconhecidos. “Consigo tirar até R$ 900 por mês. Já sou conhecida no Varjão e recebo muita coisa na porta de casa, na Quadra 6. Não jogo nada fora. Trago tudo para a cooperativa para ajudar na minha produção”, destaca.
Veterana na atividade, em que é fundamental redobrar os cuidados para manusear o lixo, Dalva não abre mão de nenhum item da vestimenta que lhe garante proteção: botas, meias, calça comprida, blusa de manga longa, luvas, máscara, óculos de proteção, boné ou chapéu. “Mesmo já estando acostumada com o serviço, não esqueço de nada para ficar bem protegida e trabalhar com segurança. Nunca tive nem um problema”, atesta.
No setor específico de triagem da CRV, nada foge aos olhos de Dinorah José Borges Rodrigues, 63 anos e dez filhos. A mulher já atuou como arrumadeira, passadeira, vendedora de lingerie e de bijuterias, mas foi na cooperativa do Varjão que percebeu as vantagens de trabalhar duro para garantir a renda.
“Sempre trabalhei muito, mas aqui posso tirar até R$ 1,2 mil por mês. É um trabalho minucioso, porque na triagem os materiais têm que ser colocados no lugar certinho, para serem ensacados ou prensados. Então, estou feliz com o que faço”, comenta.