E agora, Pezão?
A festa acabou,
a luz apagou,
os amigos sumirão,
a noite esfriou,
e agora, Pezão?
e agora, você?
Você que é governador,
que se esqueceu do povo,
você que fazia sucesso,
que dizia amar, a plebe?
e agora, Pezão?
Está sem saúde,
está sem discurso,
está com medo,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
a melhora talvez não venha,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, Pezão?
E agora, Pezão?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência em suas promessas,
seu ódio — e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
não quer morrer,
mas ela veio;
quer ir para o céu,
Céu não há mais.
Pezão, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, Pezão!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
só o cavalo amarelo de Apocalipse
que fuja a galope,
você marcha, Pezão!
Pezão, para onde?
De Carlos Drummond de Andrade com adptações
In Poesias
Ed. José Olympio, 1942
© Graña Drummond
“Tem coisas piores na vida. Tem coisas que Deus dá para a gente porque sabe que somos capazes de carregar. Eu sei que vou passar por isso daí e vou acabar mais forte”, afirmou Pezão à imprensa.
As “coisas piores na vida” que o senhor governador, talvez se refira, é não dispor, de igual modo à sua pessoa, de um serviço de saúde de excelência com altíssima resolutividade, como o ofertado a nobre Excelência. Melhoras!