Editorial S&DS
A máxima atribuída a conselheiros de presidentes — “nunca nomeie quem você não pode demitir” — nunca pareceu tão atual quanto agora no governo Lula. No centro da crise, está o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, do PDT, protagonista de mais um capítulo que expõe a fragilidade política das alianças e a lentidão gerencial em lidar com escândalos.
O caso é grave. A Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União apuram o desvio de até R$ 6,3 bilhões em descontos irregulares em aposentadorias e pensões do INSS — esquema revelado depois de um ano de alertas ignorados. Carlos Lupi, chefe direto do órgão, foi avisado ainda em junho de 2023, mas nada fez de concreto até que o escândalo estourasse de forma pública e irreversível.
A resposta de Lupi — minimizando a gravidade das denúncias e tentando deslocar a responsabilidade para “atos de terceiros” — mostra não apenas insensibilidade diante do sofrimento dos aposentados lesados, mas também uma atitude política típica dos que se julgam inatingíveis: proteger a própria posição mesmo diante de falhas administrativas comprovadas.
O presidente Lula, que vê seu governo ameaçado por escândalos em série, dá sinais de desconforto, mas permanece paralisado. E não por falta de motivos para agir. O problema é que Lupi não é apenas um ministro — é a principal liderança de um partido aliado, o PDT, de cuja bancada Lula precisa para garantir maioria no Congresso. Demiti-lo seria comprar uma crise política num momento em que o governo já patina em articulação e enfrenta resistência para aprovar reformas essenciais.
A situação revela um dilema clássico em coalizões amplas: o loteamento político de ministérios, que sacrifica a qualidade da gestão em nome da governabilidade. Neste caso, porém, o preço parece especialmente alto — e pago pela população mais vulnerável, os aposentados e pensionistas, vítimas do golpe.
A apuração sobre as fraudes ainda corre, mas os fatos já são eloquentes. Há atas de reuniões ignoradas, alertas menosprezados, providências adiadas por quase um ano, e, sobretudo, uma gestão que preferiu a omissão ao enfrentamento do problema. Mesmo agora, a postura defensiva do ministro e a tentativa de minimizar os próprios erros mostram que a lição ainda não foi aprendida.
Em qualquer governo que se propusesse a zelar pelo interesse público, a demissão de Carlos Lupi já teria sido anunciada. Mas a política é feita de cálculos — e o cálculo, desta vez, pesa mais que o escândalo. Lula nomeou quem hoje não consegue — ou não pode — demitir. E o custo disso, infelizmente, continuará sendo pago pelos brasileiros.