
Craque rubro-negro teria avisado irmão sobre cartão amarelo em jogo contra o Santos; apostas movimentaram milhares de reais e ligaram o alerta de autoridades
O que parecia ser apenas um lance de jogo virou escândalo. Aos 47 minutos do segundo tempo na partida entre Flamengo e Santos, em 1º de novembro de 2023, Bruno Henrique levou um cartão amarelo e, em seguida, acabou expulso após reclamar com o árbitro Rafael Klein. Um gesto aparentemente corriqueiro que agora está no centro de uma investigação da Polícia Federal sobre manipulação de apostas esportivas.

Segundo a PF, o atacante do Flamengo teria informado com antecedência ao irmão, Wander Nunes Pinto Junior, sobre a intenção de forçar o cartão amarelo naquela partida. Wander, por sua vez, repassou a informação a um grupo de apostadores, composto por amigos e familiares, que realizaram uma série de apostas focadas justamente na advertência ao jogador.
O caso ganhou contornos graves após três casas de apostas identificarem movimentações atípicas em torno do jogo. O alerta foi disparado por uma associação internacional que monitora esse tipo de atividade. A partir disso, a PF abriu investigação em agosto do ano passado e deflagrou uma operação de busca e apreensão em novembro — exatamente um ano após o jogo.
A análise dos celulares e computadores apreendidos revelou trocas de mensagens entre Bruno Henrique e o irmão, que reforçam a suspeita de conluio. Em uma das conversas, datada de dois meses antes do duelo com o Santos, Wander pergunta: “Está com dois amarelos?” e pede para ser avisado quando o terceiro viria. Bruno responde: “Contra o Santos”. Wander agradece: “Vou guardar o dinheiro do investimento.”
Três dias antes da partida, Bruno volta a tocar no assunto com o irmão, que inicialmente não entende a mensagem e recebe uma ligação do jogador. A PF acredita que o telefonema serviu para alinhar os detalhes da aposta.
As mensagens acessadas pelo programa Fantástico, da TV Globo, mostram ainda o envolvimento de outros familiares. Em conversa com a mãe, Wander relata que uma operadora bloqueou a opção “cartão amarelo para Bruno Henrique” e pede ajuda para abrir novas contas em nomes de terceiros. A esposa dele, Ludymilla Araújo Lima, também teria cedido contas bancárias para movimentações relacionadas às apostas.
Foram identificadas 14 apostas feitas em 13 contas diferentes — seis delas criadas na véspera do jogo. A maioria das apostas partiu de Belo Horizonte, cidade natal de Bruno Henrique, o que reforçou as suspeitas da polícia.
Ao todo, dez pessoas foram indiciadas. Bruno Henrique e o irmão podem responder por fraude em competição esportiva, com pena de 2 a 6 anos de prisão, além de estelionato, que pode gerar mais 1 a 5 anos de cadeia. Os demais envolvidos foram indiciados apenas por estelionato.
Com o relatório em mãos, o Ministério Público decidirá se apresenta denúncia formal contra os envolvidos. No campo esportivo, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) também analisa o caso. Se não houver pedido de suspensão preventiva, Bruno Henrique segue apto a jogar. Caso seja denunciado e condenado, pode ser suspenso ou até banido do futebol.
Em nota, o advogado Ricardo Pieri, que defende o atleta, afirmou que Bruno Henrique é conhecido por sua “simplicidade e comprometimento” e que “jamais se envolveu em esquemas de apostas”. Disse ainda que o jogador é a favor de regras mais rígidas para esse mercado.
O Flamengo também se manifestou. Em nota, o clube afirmou que respeita a presunção de inocência, acompanha o caso e reafirma seu compromisso com a ética no esporte.
O camisa 27, ídolo da torcida e herói em conquistas recentes do rubro-negro, agora vê seu nome envolvido em um dos episódios mais delicados da era das apostas esportivas no futebol brasileiro. Se antes fazia chover gols e empolgava o Maracanã, hoje Bruno Henrique enfrenta um jogo decisivo fora das quatro linhas — e com o apito da Justiça já soprado.