No jargão médico, uma cirurgia classificada como “satisfatória” indica que o procedimento foi realizado com sucesso técnico, sem complicações imediatas. Já o termo “bem-sucedida” é geralmente reservado aos casos em que o objetivo final da intervenção já pôde ser plenamente alcançado — o que nem sempre é possível avaliar nas primeiras horas após a operação.
A equipe médica responsável pela cirurgia do ex-presidente Jair Bolsonaro classificou o procedimento como “satisfatório“. Embora o termo possa gerar dúvidas, ele tem um significado técnico importante na prática clínica: significa que o procedimento alcançou os objetivos propostos, sem intercorrências imediatas ou complicações intraoperatórias, ainda que a situação clínica do paciente exija cautela no pós-operatório.
– Hospital Rio Grande
– Natal/RN
– 12 Abr 12h10 Sábado
– Jair Bolsonaro pic.twitter.com/0K1FK5RMfY— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) April 12, 2025
Segundo os médicos, a cirurgia realizada no último domingo (13), no Hospital DF Star, em Brasília, teve duração de aproximadamente 12 horas. O procedimento foi indicado devido a um quadro de suboclusão intestinal — uma obstrução parcial do intestino delgado causada por aderências [bridas] formadas ao longo de múltiplas intervenções abdominais anteriores. Essa foi a sétima cirurgia desde o atentado sofrido por Bolsonaro em 2018, que gerou lesões intestinais extensas e um quadro conhecido na prática cirúrgica como “abdome hostil”.
Condição pré-operatória e complexidade do procedimento
De acordo com o cirurgião-geral Cláudio Birolini, chefe da equipe responsável, o paciente apresentava sinais clínicos e laboratoriais de inflamação, como aumento do PCR [proteína C-reativa] e distensão abdominal. Após falha no tratamento conservador, a abordagem cirúrgica foi indicada.
Durante o procedimento, foi realizada uma lise extensa de aderências, além da reconstrução da parede abdominal — que se encontrava bastante comprometida. Os médicos relataram que não houve necessidade de transfusão sanguínea e que o trânsito intestinal foi restabelecido com a liberação de uma dobra no intestino delgado.
“O intestino apresentava sinais de sofrimento crônico, o que nos leva a crer que Bolsonaro já vinha com uma suboclusão subclínica há meses”, explicou Birolini.
Pós-operatório exige atenção redobrada
O cardiologista Leandro Echenique, que também integra a equipe, alertou que o pós-operatório é “delicado e prolongado”. Procedimentos extensos como esse podem gerar respostas inflamatórias sistêmicas importantes, com risco de infecções, distúrbios hemodinâmicos, complicações pulmonares, tromboses e problemas de coagulação.
“Por isso ele permanece em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), sob vigilância contínua. As próximas 48 horas são cruciais para monitoramento e estabilização clínica”, afirmou.
A equipe já iniciou antibióticoterapia, fisioterapia respiratória e cuidados de suporte. Ainda não há previsão para a alta da UTI ou do hospital.
Expectativa de evolução e possibilidade de novas cirurgias
Embora a cirurgia tenha sido planejada como uma abordagem definitiva, os médicos reconhecem que pacientes com abdome previamente operado têm risco aumentado de recidiva de aderências e, consequentemente, de novas obstruções.
“Fizemos tudo para evitar novas intervenções, mas não é possível garantir que ele não precisará de novas cirurgias no futuro. Seguiremos acompanhando com cautela”, disse Birolini.
A alimentação por via oral, segundo ele, só será retomada após recuperação da motilidade intestinal e resolução da resposta inflamatória.
Situação clínica e restrição de visitas
Na manhã desta segunda-feira (14), Bolsonaro já estava acordado, consciente e comunicativo, segundo os médicos. As visitas estão restritas a familiares próximos.
“Fizemos uma solicitação à esposa do paciente, Michelle Bolsonaro, para limitar ao máximo as visitas neste momento, a fim de preservar o repouso necessário à recuperação”, acrescentou Birolini.
Agradecimentos nas redes sociais
Tanto Bolsonaro quanto Michelle Bolsonaro se pronunciaram nas redes sociais após a cirurgia. O ex-presidente agradeceu o apoio e disse que sua recuperação será gradual. Michelle, por sua vez, celebrou a conclusão do procedimento e afirmou que segue com fé e esperança.