
Redação | S&DS – Em Defesa da Saúde
Ao longo dos anos, candidatos de partidos de esquerda que chegaram ao Palácio do Buriti fizeram da saúde pública uma de suas principais vitrines de campanha. Com promessas ambiciosas e discursos inflamados, garantiram aos eleitores que resolveriam os crônicos problemas da rede pública do Distrito Federal. Passado o fervor eleitoral, no entanto, muitas dessas promessas ficaram pelo caminho — algumas sequer saíram do papel.
Agnelo Queiroz: “Serei eu o secretário de Saúde”
Candidato ao GDF em 2010, o petista Agnelo Queiroz, médico cirurgião com passagens pelos hospitais de Base e do Gama, adotou uma retórica contundente sobre o setor. “No meu primeiro dia de governo já assumo diretamente a gestão. Serei eu o secretário de Saúde”, afirmou durante a campanha. A proposta era clara: nos primeiros 100 dias de mandato, Agnelo despacharia diretamente da Secretaria de Saúde e, ao menos uma vez por semana, de dentro de um hospital público.

A promessa, no entanto, não foi cumprida. Agnelo assumiu o governo, mas não ocupou formalmente a pasta. As visitas aos hospitais, embora tenham ocorrido, foram pontuais e não seguiram a agenda semanal anunciada. O discurso de mobilização total do governo em torno da saúde perdeu força diante da complexidade da máquina pública e da resistência à mudança estrutural do setor.
Entre os compromissos apresentados pelo petista estava a ampliação do Programa Saúde da Família, com a meta de aumentar de 96 para 400 o número de equipes. Também prometeu informatizar a rede de abastecimento de medicamentos, para evitar a judicialização de atendimentos e internações em UTIs. “É inadmissível que as pessoas precisem de liminares na Justiça para garantir UTI e remédio”, disse à época. Na prática, o cenário da judicialização continuou a crescer ao longo de sua gestão.
Rollemberg: “Não é falta de dinheiro, é falta de gestão”
Eleito em 2014, Rodrigo Rollemberg [PSB] manteve o tom crítico à gestão da saúde pública. Disse, categoricamente, que o principal problema da área não era falta de recursos, mas sim de qualidade administrativa. “O DF é a unidade da Federação com a menor cobertura de Saúde da Família, segundo dados do Ministério da Saúde. Apenas 30% da população está sendo atendida [pelo programa]”, declarou ao assumir o mandato.
Na prática, a gestão Rollemberg enfrentou uma das maiores crises da saúde pública do DF. No auge do seu governo, hospitais e UPAs operavam com restrição severa de atendimentos. Em várias unidades, apenas casos de classificação vermelha — os mais graves — eram atendidos, deixando pacientes com outras urgências sem assistência adequada.

O próprio governador reconheceu, mais tarde, a dificuldade em reverter o quadro. Trocou várias vezes de secretários. A tentativa de implantação de novos modelos de gestão, como a criação do Instituto Hospital de Base, foi alvo de polêmica e enfrentou resistência dentro e fora do setor. Desconsiderou o Conselho de Saúde, um ato que contradiz a visão socialista defendida por seu partido que menosprezou o segmento social de maior expressividade humana criado pela Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990 que cria os Conselhos de Saúde.
A retórica versus a realidade
As promessas de Agnelo e Rollemberg, ambos representantes da centro-esquerda e ditos ‘defensores históricos do SUS’, não encontraram ecos verdadeiros em suas bandeiras. A retórica de que o problema da saúde era exclusivamente de gestão — e não de recursos — revelou-se simplista diante de um sistema com gargalos estruturais, orçamentários e operacionais demonstrando a total falta de conhecimento.
Fim de um ciclo?
Com novas eleições no horizonte e o desgaste acumulado pela esquerda que comandou o GDF entre 2010 e 2018, a saúde pública — tema não solucionado em seus governos — volta ao centro de seus fracos discursos de campanha. O debate, no entanto, carrega o peso de um histórico marcado por promessas não cumpridas e centenas de mortes evitáveis sob essas gestões. Resta saber se os 2.203.045 eleitores do Distrito Federal, segundo dados de fevereiro de 2025 divulgados pelo TSE, estarão dispostos a confiar suas vidas — e as de seus familiares — novamente às mãos do passado.