OS SALVADORES DA PÁTRIA

O Brasil tem assistido a uma curiosa tendência: a ascensão de figuras midiáticas como potenciais candidatos à Presidência da República. Depois do cantor Gusttavo Lima, que anunciou sua intenção de disputar o cargo em 2 de janeiro, apenas para desistir em 19 de março, agora é a vez do influenciador digital Felipe Neto entrar na corrida presidencial para 2026.
Em um vídeo publicado no Instagram nesta quinta-feira [3], Felipe Neto, de 37 anos, declarou sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto. “Esse não é um gesto de vaidade. Eu quero ser presidente porque, embora seja um homem de fora da política, eu tenho ao meu lado a maior arma do nosso tempo”, afirmou, sem especificar exatamente qual seria essa “arma“.
A movimentação desses nomes evidencia uma tendência global: a transformação da política em um reality show. A história recente já provou que celebridades podem chegar ao poder, como Donald Trump nos Estados Unidos e Volodymyr Zelensky na Ucrânia. Este último, inclusive, é um exemplo emblemático. Antes de se tornar presidente, Zelensky estrelava a série “O Servo do Povo”, em que interpretava um professor que, após viralizar na internet com um discurso anticorrupção, era alçado à presidência do país. A ficção tornou-se realidade quando ele foi eleito em 2019.
No Brasil, a história parece repetir-se de forma caricatural. É curioso notar como figuras de alto impacto midiático acreditam que sua popularidade virtual pode ser convertida em capital político sólido. No entanto, administrar um país exige muito mais do que likes e engajamento digital. Não é apenas sobre discursar contra “a velha política” ou prometer mudança, mas sim construir propostas concretas e demonstrar capacidade técnica para governar.
Diante desse cenário, onde o pragmatismo político é constantemente atropelado pelo marketing pessoal, só falta Sassá Mutema, personagem fictício da novela “O Salvador da Pátria”, anunciar sua candidatura. Se a lógica for a mesma, não seria surpreendente. Afinal, na política brasileira, a realidade tem superado a ficção com uma frequência preocupante.