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Durante décadas, os relacionamentos foram alicerçados em compromissos sólidos. No tempo de minha mãe, hoje com 75 anos, e até mesmo nos meus 49, a dinâmica amorosa era outra.
Com a mudança dos tempos, os vínculos se fragmentaram, ganharam novas roupagens e, para muitos, perderam a profundidade. Afinal, como já dizia Heráclito de Éfeso no século VI a.C.: “A única coisa permanente é a mudança.”
As transformações culturais esculpiram uma nova geração de homens e mulheres, e, com isso, emergiram críticas pesadas. Termos como “geração fraca” e “mimizenta” são frequentemente usados para descrever aqueles que cresceram na era touch screen, onde a reflexão profunda cedeu espaço para a influência digital de especialistas em tudo — de relacionamentos a estética, de decoração a sexo.
Mas e antes? Como viviam nossos pais? Talvez a música de Elis Regina, “Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”, seja um elogio, uma crítica ou um convite à reflexão. O fato é que os relacionamentos de antigamente pareciam mais sólidos. E, para muitas mulheres, a sensação hoje é de que os homens não amadureceram: encontram-se cada vez mais imersos na superficialidade das relações.
A era dos aplicativos de encontros facilitou o sexo casual, mas também abriu as portas para personagens que se escondem sob máscaras de boas intenções. Porém, a fragilidade de muitos se revela quando duas palavras entram em cena: “provedor” e “casamento”. Termos que antes eram sinônimos de responsabilidade e estabilidade agora se tornaram gatilhos para fuga.
A palavra “provedor” já não carrega apenas a ideia de compromisso e estabilidade; para muitos homens, tornou-se sinônimo de exploração. Como aponta Hugo Lemos:
“Provedor é ser rico, ou ganhar acima de 20k por mês, bancando tudo: viagens, presentes, saídas, restaurantes, roupas… E, depois de um tempo (no máximo dois anos), ela ainda reclama que quer mais. Ah, e nem pense em perder sua renda ou emprego, pois fatalmente ela não pensará duas vezes antes de te deixar. Que mundo fútil dessas mulheres! Um grande abraço fraterno ao livramento que um amigo meu teve há 6/7 anos ao se separar de sua mulher. Sucesso, meu amigo, você só GANHOU!”
Esse desabafo reflete um sentimento cada vez mais comum entre os homens que enxergam o papel de provedor como uma armadilha. Mas será que essa percepção representa a realidade de todos os relacionamentos ou apenas um recorte específico? O problema está nas expectativas das mulheres ou na forma como os próprios homens interpretam o compromisso?
O fato é que, ao longo dos anos, a noção de relacionamento mudou drasticamente. A cultura do imediatismo e a ilusão da abundância de escolhas transformaram o amor em uma espécie de contrato temporário, onde qualquer crise financeira pode ser motivo de rompimento. O que antes era parceria, hoje, para muitos, virou transação.
Nas redes sociais, cresce o desabafo feminino: “Quem casou, casou. Porque hoje, os homens são nossa concorrência ou eternos meninos.” Mas se os próprios casais de hoje educam os homens de amanhã, como chegamos a essa realidade?
Talvez a resposta esteja no novo atravessador das relações: a internet. Mais do que uma ponte entre as pessoas, ela se tornou uma fábrica de imediatismo, onde a ilusão da escolha infinita enfraquece o compromisso e o desejo de construir algo duradouro.
O problema, então, não está apenas nos homens, mas na forma como a sociedade inteira tem encarado o amor, o compromisso e a responsabilidade. A pergunta que fica é: queremos mudar esse cenário ou vamos apenas nos acostumar com ele?