Uma pesquisa divulgada pelo Datafolha em 2020 revelou que 31% da população brasileira se declarava evangélica, e que as mulheres são maioria expressiva dentro desse grupo, representando 58% do total.
Essa disparidade de gênero tem gerado um fenômeno cada vez mais perceptível nas igrejas evangélicas: a dificuldade das mulheres em encontrar parceiros que compartilhem da mesma fé.
A diferença numérica é clara. Enquanto as mulheres ocupam grande parte dos cultos, reuniões e eventos religiosos, os homens representam quase 42% da população evangélica. Esse desequilíbrio gera reflexos não apenas na dinâmica das igrejas, mas também na vida afetiva das mulheres que buscam construir relacionamentos baseados em valores religiosos.
Segundo especialistas em sociologia da religião, essa lacuna pode ser explicada por questões culturais e comportamentais. As mulheres, historicamente, têm maior envolvimento em práticas religiosas e comunitárias, muitas vezes associadas à busca por apoio emocional e espiritual. Já os homens, em maior proporção, costumam manter um vínculo mais esporádico com a igreja ou adotar práticas religiosas de forma individualizada, sem participação frequente em instituições.
A busca por afinidade religiosa
Para muitas mulheres evangélicas, ter um parceiro que compartilhe da mesma fé é fundamental, especialmente porque os ensinamentos religiosos frequentemente incentivam a formação de casais com crenças alinhadas. A Bíblia, por exemplo, adverte sobre o “jugo desigual” — conceito que desaconselha o relacionamento entre pessoas de diferentes crenças.
“É muito difícil encontrar alguém na igreja que esteja disponível. A gente percebe que os homens que participam já estão comprometidos, ou há poucos solteiros”, relata Camila Oliveira, de 29 anos, frequentadora de uma igreja no Distrito Federal.
Reflexos sociais e novos comportamentos
Essa realidade tem levado algumas mulheres a repensarem seus critérios na busca por um parceiro. Algumas estão mais abertas a relacionamentos com pessoas de outras denominações religiosas, enquanto outras decidem priorizar sua espiritualidade individual, deixando o desejo de casamento para “quando Deus enviar um parceiro”, afirma Pâmela Moraes, 33 anos, da Assembleia de Deus, em Taguatinga Sul, cidade do DF.
Para as igrejas evangélicas, o desafio também é evidente. Aumentar o engajamento masculino é visto como uma forma não apenas de equilibrar essa disparidade, mas também de promover maior adesão familiar à religião. Programas voltados para o público masculino, como encontros e grupos de mentoria, têm sido uma das estratégias adotadas por diversas congregações.
A disparidade de gênero nas igrejas evangélicas não é apenas uma questão estatística, mas um reflexo de dinâmicas sociais e culturais que influenciam diretamente as relações amorosas. Para muitas mulheres, a fé permanece um pilar inegociável, mesmo diante das dificuldades de encontrar um parceiro que compartilhe dos mesmos valores.