A recente eleição de Sandro Mabel (União Brasil), neste domingo (27), como prefeito de Goiânia acende uma reflexão incômoda sobre o que realmente motiva a política e o eleitorado brasileiro.
Com um patrimônio declarado de R$ 313 milhões, Mabel se tornou o prefeito mais rico dentre as capitais brasileiras, fato que aponta para uma realidade persistente e preocupante: o poder nas mãos daqueles que, historicamente, não se importam com os mais pobres.
Esse padrão de concentração de riqueza e poder não é novidade na política brasileira, onde grandes fortunas entram nas campanhas e saem vitoriosas das urnas. Mabel, um empresário de longa data, possui uma impressionante lista de bens: entre eles, um helicóptero avaliado em R$ 3,1 milhões, uma obra de arte no valor de R$ 160 mil, além de propriedades e investimentos que, juntos, somam R$ 261,8 milhões. Seus ativos, que incluem 42 terrenos e um imóvel luxuoso de R$ 11,7 milhões, são a prova de uma vida construída longe da realidade de muitos dos eleitores que depositaram nele sua confiança.
Apesar de sua vasta riqueza, a decisão de milhares de goianos em apoiar Mabel nas urnas demonstra uma tendência quase paradoxal: o eleitor vota na elite sem questionar o abismo econômico e social que a separa de sua realidade.
Para muitos, a escolha por um político rico parece estar alinhada à falsa esperança de que o sucesso financeiro individual possa se traduzir em benefícios coletivos. No entanto, a história de governos liderados por grandes empresários mostra que esses mandatários têm interesses profundamente enraizados em preservar o status quo que os mantém na elite, muitas vezes sem nenhum compromisso verdadeiro com políticas de redução de desigualdades.
Eleito com 55,53% dos votos contra os 44,47% de seu adversário, Fred Rodrigues (PL), Mabel deve agora enfrentar desafios que não tocam diretamente sua própria experiência de vida: a pobreza, a falta de moradia digna, o transporte público insuficiente e o desemprego. Essas são pautas que afetam milhares de goianos, mas que pouco mobilizam a elite política e econômica, historicamente avessa a qualquer redistribuição de riqueza.
A realidade é que os ricos, como Mabel, não sentem o peso das dificuldades que enfrentam as classes populares e, portanto, não enxergam o impacto real de uma política voltada para a inclusão e a igualdade social. Ele pode até trazer discursos de desenvolvimento e prosperidade, mas, no fundo, suas prioridades serão inevitavelmente moldadas por um contexto em que o lucro e o privilégio são protagonistas.
Em suma, a eleição de um prefeito com patrimônio milionário em uma capital brasileira é um alerta para a urgente necessidade de conscientização do eleitor. Sem um olhar crítico, eleitores seguirão elegendo aqueles que perpetuam um sistema desigual, indiferentes às necessidades de quem luta diariamente para sobreviver em meio a uma sociedade que, ao longo das décadas, vem sendo moldada para servir aos mesmos: os ricos.