Uma Nota Técnica recente do Banco Central do Brasil (BCB) revela o tamanho e os desafios do mercado de apostas online no país.
Solicitado pelo senador Omar José Abdel Aziz (PSD-AM), o estudo fornece uma análise inicial do setor, que movimentou cifras bilionárias em agosto de 2024 e atraiu cerca de 24 milhões de apostadores.
O relatório destaca que empresas do setor de jogos de azar e apostas online operam muitas vezes com nomes distintos dos divulgados na mídia e, em alguns casos, não estão devidamente classificadas nos códigos econômicos adequados, o que dificulta uma análise precisa do mercado. Mesmo assim, foi possível identificar um movimento robusto de transferências financeiras via Pix, o principal método utilizado pelos apostadores.
O comparativo entre loterias e apostas online
Um dos pontos mais relevantes do estudo é o comparativo entre loterias e o mercado de apostas online. Em agosto de 2024, as loterias arrecadaram R$ 1,9 bilhão, enquanto o setor de apostas, incluindo empresas devidamente classificadas e aquelas não identificadas corretamente, movimentou R$ 21,1 bilhões. O levantamento identificou 56 empresas de apostas que movimentaram, sozinhas, R$ 20,8 bilhões. Esse valor supera amplamente as cifras movimentadas pelas empresas formalmente registradas.
Perfil dos apostadores
Outro ponto crucial abordado na Nota Técnica é o perfil dos apostadores brasileiros. Estima-se que cerca de 24 milhões de pessoas participaram de apostas online, com destaque para a faixa etária entre 20 e 30 anos. No entanto, o valor apostado mensalmente aumenta conforme a idade, ultrapassando R$ 3.000 entre os apostadores mais velhos.
O relatório também traz um dado alarmante: 5 milhões de apostadores pertencem a famílias beneficiárias do Bolsa Família. Em agosto de 2024, esses indivíduos transferiram R$ 3 bilhões para plataformas de apostas, com uma mediana de R$ 100 gastos por pessoa. O estudo aponta que 70% desses apostadores são chefes de família, sendo os principais responsáveis pelo recebimento do benefício social.
Impacto nas famílias de baixa renda
A vulnerabilidade financeira das famílias de baixa renda é uma das preocupações centrais do Banco Central. A Nota Técnica sugere que o apelo das apostas, com a promessa de ganhos rápidos, é particularmente atraente para esse público. Embora o levantamento tenha focado nas transações via Pix, o Banco Central alerta que outros métodos de pagamento, como cartões de crédito e TEDs, também são usados, o que pode subestimar os valores totais movimentados.
Desafios e futuro da regulação
O Banco Central afirma que está monitorando o impacto do mercado de apostas sobre a economia e a estabilidade financeira, mas destaca que ainda são necessários mais dados e tempo para uma avaliação completa. A regulamentação do setor, incluindo regras para pagamentos de prêmios exclusivamente por meio de transferência bancária, pode ajudar a trazer maior transparência para o mercado.
Com o crescente volume financeiro envolvido e o impacto sobre a população vulnerável, o debate sobre a regulação das apostas online no Brasil ganha cada vez mais urgência.