Determinar o número preciso de mortes por PMMA no Brasil é um desafio, devido à falta de dados concretos e confiáveis.
Segundo levantmento do portal Saúde & Direitos Sociais – S&DS, os principais entraves para a obtenção de dados precisos incluem:
- Falta de registro obrigatório: A aplicação de PMMA não é notificada compulsoriamente aos órgãos de saúde, dificultando a contagem precisa de procedimentos e seus desfechos.
- Subnotificação: Nem todos os casos de complicações graves ou óbitos por PMMA são notificados, seja por negligência, medo de represálias ou falta de conhecimento.
- Dificuldade na diferenciação: Em alguns casos, a morte pode ser causada por outros fatores relacionados ao procedimento estético ou à saúde do paciente, dificultando a atribuição direta ao PMMA.
Apesar da imprecisão, podemos analisar alguns indicadores para ter uma ideia da gravidade da situação:
- Morte recente de influencer: Em julho de 2024, a influencer Aline Ferreira faleceu após complicações de um procedimento estético nos glúteos com PMMA, gerando grande repercussão na mídia e nas redes sociais. Aline pediu à familiares que não informasse à equipe médica, que havia feito aplicação do produto no glúteo, quando de sua entrada no hospital (Hran), após passar mal. O procedimento foi realizado no dia 23 de junho, um domingo, na clínica – AMA-SE – de estética de Goiânia (GO). A dona da clínica, Grazielly da Silva Barbosa, foi presa pela Polícia Civil de Goiás, nesta quarta-feira (3).
- Número de complicações: Em 2016, mais de 17 mil complicações relacionadas ao PMMA foram registradas, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).
- Riscos conhecidos: O uso do PMMA em áreas como os glúteos é contraindicado pela Anvisa devido aos graves riscos à saúde, incluindo necrose, granulomas, infecções e morte.
Embora o número exato de mortes por PMMA seja incerto, os dados disponíveis indicam que se trata de um problema sério de saúde pública, exigindo medidas urgentes para garantir a segurança dos pacientes.
Recomendações:
- Proibição do PMMA em áreas de risco: A proibição do uso de PMMA em áreas como os glúteos, lábios e outras regiões com alto risco de complicações é fundamental para prevenir mortes e sequelas graves.
- Fiscalização rigorosa: A Anvisa e os Conselhos de Medicina devem intensificar a fiscalização para combater o uso ilegal e indevido do PMMA.
- Campanhas de conscientização: É crucial conscientizar a população sobre os riscos do PMMA e a importância de buscar procedimentos estéticos apenas com profissionais qualificados e em locais confiáveis.
- Melhoria na coleta de dados: Aprimorar a coleta de dados sobre procedimentos com PMMA e suas complicações é essencial para obter um panorama preciso da situação e subsidiar políticas públicas mais eficazes.
Anvisa esclarece sobre indicações do PMMA
Todos os produtos usados em procedimentos médicos e estéticos em comercialização no Brasil precisam ter registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão responsável pela avaliação quanto à segurança, eficácia e qualidade dos itens. Somente após a análise técnica, esses produtos são liberados para venda e uso, visando à proteção do paciente e do consumidor.
Uma das aplicações do polimetilmetacrilato (PMMA) é na forma de gel para o preenchimento cutâneo de pequenas áreas do corpo.
Um dos produtos que contém PMMA é o Biossimetric, fabricado pela MTC Medical Comércio Indústria Importação e Exportação de Produtos Biomédicos Ltda, que exige aplicação por profissional médico habilitado.
O produto está autorizado para as seguintes aplicações pela Anvisa:
- Correção de lipodistrofia (alteração no organismo que leva à concentração de gordura em algumas partes do corpo) provocada pelo uso de antirretrovirais em pacientes com síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS).
- Correção volumétrica facial e corporal, que é uma forma de tratar alterações, como irregularidades e depressões no corpo, fazendo o preenchimento em áreas afetadas por meio de bioplastia.
A concentração de PMMA no produto varia e há indicações claras dos locais do corpo onde as aplicações podem ser feitas. De acordo com o fabricante, o produto pode conter 5, 10, 15 ou 30% de polimetilmetacrilato, apresentado em seringas plásticas de 1,0 mL ou 3,0 mL. Conforme a concentração do PMMA, o produto deve ser injetado nos locais descritos a seguir:
- Biossimetric com 5% de PMMA: deve ser injetado na derme profunda.
- Biossimetric com 10 ou 15%: deve ser injetado no tecido celular subcutâneo.
- Biossimetric com 30%: deve ser injetado a nível intramuscular ou justa periosteal ou pericondrial.
Limite de aplicação
De acordo com as orientações do fabricante, aprovadas pela Anvisa, a dose utilizada é aquela estritamente necessária para a correção de defeitos tegumentares ou da pele. Portanto, depende de avaliação médica.
Nos casos de atrofia tegumentar da face secundária à AIDS, por exemplo, o fabricante do Biossimetric descreve que a quantidade necessária varia de 4 a 12mL para cada lado do rosto. Já em uma sequela de poliomielite com atrofia de musculatura da panturrilha, a dose utilizada se situa em 120mL, dependendo do volume desejado para a correção. Tal volume pode ser implantado de uma vez ou em etapas sucessivas, com 45 dias de intervalo, dependendo da elasticidade da pele de cobertura.
Somente por profissional habilitado
É muito importante ressaltar que, conforme informações aprovadas nesta Agência, o produto deve ser administrado por profissionais médicos treinados. Para cada paciente, o médico deve determinar as doses injetadas e o número de injeções necessárias, dependendo das características cutâneas, musculares e ósteocartilaginosas de cada paciente, das áreas a serem tratadas e do tipo de indicação.
A Anvisa também esclarece que o produto não é contraindicado para aplicação nos glúteos para fins corretivos. Porém, não há indicação para aumento de volume, seja corporal ou facial. Cabe ao profissional médico responsável avaliar a aplicação de acordo com a correção a ser realizada e as orientações técnicas de uso do produto.
O que é o PMMA?
O polimetilmetacrilato, ou PMMA, é um componente plástico com diversas utilizações na área de saúde e em outros setores produtivos. Ou seja, é uma matéria-prima com vários tipos de aplicações que vão variar de acordo com as formas de seu processamento e desenvolvimento. Alguns exemplos de produtos que têm sua aplicação são as lentes de contato, implantes de esôfago, cimento ortopédico, entre outros.
Uma das aplicações desse tipo de produto é para o preenchimento cutâneo, com uso específico por profissionais habilitados. Nesse caso, o PMMA é utilizado em microesferas, numa forma semelhante ao gel.
No Brasil, o PMMA para preenchimento subcutâneo precisa ser registrado na Anvisa, pois é um produto de uso em saúde da classe IV (máximo risco). De acordo com o órgão, há registros de produtos para essa finalidade há mais de 10 anos no Brasil.
Serviço para o cidadão
Em caso de dúvidas sobre o registro de produtos no Brasil, basta usar um dos Canais de Atendimento da Anvisa para esclarecer questões relacionadas a medicamentos, insumos farmacêuticos, cosméticos, alimentos, entre diversos outros temas.