“É natural. A gente é que não deveria ter construído na área que alaga periodicamente”.
A avaliação é do professor Roberto Reis, do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução da Biodiversidade da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Ele acrescentou que essas obras, feitas nos anos 1970, nunca receberam manutenção adequada. “A culpa da enchente é do planeta. Mas a culpa da tragédia é dos administradores do estado e das cidades” explicou o especialista à Agência Brasil.
A tragédia que atingiu 446 municípios gaúchos é resultado de uma combinação de fatores naturais e humanos, conforme a análise dos especialistas Roberto Reis, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), e Rodrigo Paiva, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Contribuição Humana
Construção Inadequada: A construção em áreas de alagamento é uma ação humana que agrava o impacto das cheias. Essas áreas, naturalmente propensas a inundações, tornam-se mais vulneráveis quando ocupadas indevidamente.
Falta de Manutenção: Reis destaca a ausência de manutenção adequada nos diques de contenção e nas barreiras anti-alagamento, construídas nos anos 1970. A falta de reparos, especialmente após enchentes significativas como a de setembro do ano passado, exacerba os danos em eventos subsequentes.
Administração Ineficiente: A responsabilidade pelos prejuízos materiais e humanos é atribuída aos administradores do estado e das cidades, que não tomaram as medidas necessárias para prevenir a tragédia, como manutenção e reconstrução de infraestruturas críticas.
Fatores Naturais
Volume de Chuvas: Paiva aponta que o volume recorde de chuvas, chegando a 800 milímetros em algumas regiões, é um fator natural crítico. Esse excesso de precipitação é exacerbado por mudanças climáticas, que aumentam a frequência e intensidade dos eventos extremos.
Geomorfologia da Região: A configuração geográfica das áreas afetadas, como Porto Alegre, situada em uma várzea e na confluência de rios, naturalmente resulta em alagamentos frequentes. O escoamento lento nas planícies contribui para a permanência das águas, aumentando a duração das cheias.
Influência dos Ventos: O vento sul contribui para o represamento das águas no Lago Guaíba, elevando o nível da água e agravando a situação de cheia.
Conclusão
É possível quantificar a participação humana na tragédia em termos qualitativos, destacando a falta de planejamento urbano adequado e a negligência na manutenção de infraestruturas essenciais. Enquanto a chuva excessiva e a geomorfologia são fenômenos naturais inevitáveis, a gravidade dos danos foi amplificada pela ação e inação humana. A combinação de fatores naturais e falhas humanas criou um cenário onde a tragédia não só era previsível, mas poderia ter sido mitigada com medidas preventivas e corretivas adequadas.
Implicações
A tragédia sublinha a importância de políticas públicas eficazes na gestão de riscos naturais, a manutenção contínua de infraestruturas e o planejamento urbano sustentável para minimizar os impactos de eventos climáticos extremos. As autoridades precisam aprender com os erros passados para evitar que situações semelhantes se repitam, reduzindo assim o custo humano e material de tais desastres.