Há três ano, Bolsonaro chamava a pandemia de Covid de “gripezinha” em rede nacional.
Milhares de vidas interrompidas e famílias enlutadas poderiam ter histórias diferentes com a vacinação.
Passados três anos desde o primeiro caso de Covid-19 registrado no país, o Brasil alcançou outro triste marco nesta terça-feira (28): 700 mil mortes causadas pela doença. Um número que compreende todas as trajetórias interrompidas e famílias enlutadas. Milhares delas poderiam ter histórias diferentes com uma ação simples: vacinação. No combate da maior crise sanitária da história do país, a ciência comprova que a principal forma de proteção contra casos graves e óbitos é a vacina.
Aumentar as coberturas vacinais contra a Covid-19 é prioridade do Ministério da Saúde, que lançou o Movimento Nacional pela Vacinação no fim de fevereiro. Até agora, mais de 6 milhões de doses de reforço bivalentes já foram aplicadas. No entanto, é importante ressaltar que os grupos prioritários devem procurar uma unidade de saúde.
“Quero conclamar a união de todos pela nossa mobilização nacional. Nesse momento, estamos vacinando com a dose de reforço contra a Covid-19. Temos que olhar para o passado, mas ao mesmo tempo, afirmar que o Ministério da Saúde não pode mais incorrer em erro de não coordenar, de não cuidar, de não tratar. Precisamos estar unidos para que novas tragédias não se repitam. Estamos juntos nessa luta. A memória não morrerá”, afirma a ministra Nísia Trindade.
A vacina que hoje está disponível gratuitamente em todas as unidades de saúde do Brasil poderia ter mudado a vida de famílias que perderam pessoas queridas durante a pandemia.
Conheça algumas dessas histórias:
Maria do Carmo da Silva Ribeiro, 70 anos, faleceu em outubro de 2020. A lembrança e a saudade ficaram na memória da família, como o genro Flávio Ferreira, 48 anos. Ele, que também contraiu a doença, relata os momentos dolorosos. “Fui contaminado na primeira onda, quando o momento era de muita incerteza. Fiquei 13 dias intubado, 18 dias na UTI”, conta. O que o enfermeiro não imaginava é que após momentos de dificuldade ainda veria tantas mortes, principalmente depois do desenvolvimento da vacina. “Perdi muitos conhecidos. Se tivéssemos acesso ao imunizante e uma campanha mais forte em favor da vacinação, nós certamente teríamos evitado muitas perdas”, acredita.
Quem também sentiu de perto os efeitos da pandemia foi Adriano Araújo, 51 anos. Enfermeiro, ele contraiu três vezes a infecção e conseguiu se recuperar. Entretanto, ele salienta que, se não fosse o imunizante, seu destino poderia ser outro. “A primeira vez que eu adoeci não tinha a vacina, nas outras vezes sim, o que foi muito importante, porque a primeira foi agressiva, tive 25% do pulmão comprometido. Sem a vacina, talvez eu não estivesse aqui fazendo esse relato”, constata.
Maranhense e morador de Brasília, Adriano trabalha na iniciativa privada, mas na fase mais dramática da pandemia se juntou aos voluntários do SUS para socorrer os pacientes de Manaus, no Amazonas, que sofriam sem oxigênio. No dia da partida, Adriano recebeu a notícia da morte do pai, que estava com suspeita de ter contraído o vírus. A dor não o impediu de seguir o plano. Ele conta que, apesar das incertezas e medo, sentia que precisava cumprir seu papel, dada a gravidade do momento. “A enfermagem mostrou que sempre estivemos na linha de frente de uma forma anônima e não fugimos, mesmo com a possibilidade de não voltar vivo”, relembra.
O alívio veio com o anúncio da vacina, da qual Adriano se tornou um árduo defensor. “Como trabalhador da saúde, acredito que a ciência, que é nossa mola mestra, é ela que nos guia para que consigamos prestar o melhor atendimento. Acredito que se a população tivesse acesso, mais cedo, às vacinas, teríamos evitado a perda desse número absurdo de vidas. Talvez até o meu pai estivesse por aqui ainda”, emociona-se.
A especialista em saúde mental, Dóris Humerez, 70 anos, foi uma das voluntárias responsáveis pela linha de atendimento on-line, disponibilizada pelo Conselho Federal de Enfermagem, que ofereceu suporte psicológico aos enfermeiros que trabalhavam no atendimento aos pacientes de Covid-19. “Eles tinham muito medo de contaminar os familiares e, nesse momento, tivemos casos de profissionais relatando a perda de pessoas próximas e se culpando, ouvi frases como ‘eu matei minha mãe, levei o vírus para ela’. Foi tudo tudo muito difícil”, detalha.
Pesarosa, ela conta que também perdeu colegas próximos. “Não tem como ficar ileso. Algumas vezes, o sentimento era de revolta”, confessa. Ela recorda do caso de uma mãe que perdeu os primeiros marcos de desenvolvimento do filho porque preferiu se isolar, enquanto trabalhava em hospitais. “Foi um momento muito cruel para todas as pessoas”, resume.
Juliana Oliveira
Ministério da Saúde