Covid-19 fez Distrito Federal ampliar capacidade de monitoramento epidemiológico de doenças
Nos momentos mais difíceis da Covid-19 no Distrito Federal, a enfermeira Cristina Segatto mal podia deixar o telefone. Ela não estava na linha de frente do tratamento, mas ao longo do seu plantão de 24 horas falava com dezenas de pessoas e tinha uma noção do tamanho da pandemia. “É uma dinâmica muito grande. No momento de pico, a gente chegou a falar com 100 pessoas em um dia. E o telefone não parava”, lembra.
Ela é uma das plantonistas do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde do Distrito Federal (Cievs-DF), unidade responsável por identificar novas doenças e acompanhar a evolução dos casos. Os dias difíceis da Covid-19 foram marcados por números negativos, mas em experiência o saldo foi positivo. Atualmente, o DF tem uma capacidade de vigilância estratégica à saúde diferenciada.
É o que sustenta a chefe da unidade, a enfermeira Priscilleyne Reis. “Hoje, a gente já tem uma lógica de trabalho para a monkeypox muito mais rápida. Temos pessoas que sabem o que fazer, e como fazer”, explica. À frente de uma equipe de 25 pessoas, ela destaca a qualificação técnica do grupo e o reforço recebido: profissionais encaminhados do Ministério da Saúde e do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IGESDF), além de servidores convocados por meio de concurso da própria Secretaria de Saúde do DF.
Prêmio nacional
A rotina no Cievs-DF exige conhecimento técnico, diálogo e curiosidade. É o que conta a enfermeira Cristina Segatto, que é mestre em epidemiologia. Ela investiga prontuários médicos, exames laboratoriais, registros de óbitos, relatórios passados pela Rede de Vigilância Epidemiológica Hospitalar ou pela Rede de Infectologias de Brasílias, informações de profissionais de saúde encaminhados ao Cievs-DF e até relatos de pacientes ou familiares, além de notícias. O objetivo é avaliar diariamente os riscos de chegada de uma nova doença ou o cenário de casos. Suspeitas de novos casos podem ser comunicadas pelo e-mail [email protected] .
As informações são tratadas de acordo com o conhecimento técnico das doenças, com o auxílio de conhecimentos de áreas como estatística, epidemiologia e informática. Em 2020, o Cievs-DF ganhou do Ministério da Saúde o prêmio nacional de inovação tecnológica por conta do software desenvolvido para produzir diariamente o boletim de casos de Covid-19 no Distrito Federal.
Na prática, o resultado é oferecer para os gestores públicos e a população uma visão estratégica sobre doenças que podem ameaçar o bem-estar público. “Somos o alerta, um centro de inteligência para apoiar as áreas executoras”, resume Priscilleyne Reis. Doenças raras ou que surgiram em outras partes do Brasil ou do mundo entram no radar do Cievs-DF. “O objetivo do nosso trabalho é sempre interromper a transmissão ou desacelerar”.
O trabalho também inclui a análise de óbitos para evitar erros na identificação de casos. Quando há confirmação de doenças, como da Covid-19 ou monkeypox, o trabalho é acompanhar a evolução epidemiológica. “Estudamos os padrões de ocorrência para verificar se está dentro do esperado, acima do esperado ou abaixo do esperado. O que é previsto não é exatamente o que vai acontecer, mas dá uma projeção”, explica a gerente.
Das doenças monitoradas pelo Cievs-DF, um destaque é para a malária, que não tem casos registrados de contaminação por aqui. Porém, tão logo há a identificação de um paciente ter chegado ao Distrito Federal com suspeita de contaminação, a própria equipe vai até o local fazer testes e levar medicamento.
O Cievs-DF também atua diretamente quando há surtos de doenças contagiosas em locais como em hospitais, escolas e presídios. Para isso, a unidade trabalha em parceria com outros órgãos públicos, como as secretarias de educação, justiça e de segurança pública.