Os sintomas iniciais da gravidez podem ser diferentes a depender de cada pessoa. Para a maioria, a descoberta acontece no primeiro mês, e não por algum sinal específico, mas ao notar que a menstruação está atrasada — geralmente a confirmação vem com um teste de gravidez positivo.
Para criar um novo ser humano, sem dúvidas o corpo e a mente passam por muitas mudanças — isso sem mencionar todas as diferentes fases do feto, que vai de um organismo unicelular a um bebê totalmente formado pronto para viver fora do útero.
Cada fase da gravidez traz sensações e mudanças diferentes, e pode ser assustador — especialmente para mães e pais de primeira viagem — tentar descobrir o que é normal e o que não é.
A seguir, descrevemos os estágios da gravidez mês a mês (e também com a indicação das semanas, como fazem os obstetras), para explicar o que esperar do desenvolvimento do bebê e também das mudanças no corpo da gestante.
É importante lembrar que, apesar de esperados, você pode não sentir todos os sintomas descritos pela reportagem — cada corpo reage de maneiras distintas. O ideal é manter um diálogo constante com seu médico e consultá-lo sempre que surgirem dúvidas.
Primeiro trimestre
Mês 1 (1 a 4 semanas)
Na primeira visita médica, é comum que o profissional de saúde faça muitas perguntas sobre seu histórico médico familiar. Também se realiza um exame pélvico interno para verificar o útero, a vagina e o colo do útero e pode ser pedido um exame papanicolau (de prevenção contra contra o câncer de colo de útero), caso a gestante não tenha feito em um período recente, dentro de cerca de um ano.
Exames de sangue de rotina e exames de urina também costumam acontecer nesse primeiro momento, além de verificações gerais da avaliação da saúde, incluindo altura, peso e pressão arterial.
Vitaminas e ácido fólico, que contribuem para uma formação saudável do bebê, são recomendados à gestante nessa fase inicial. Por segurança, é importante compartilhar com o médico informações sobre quaisquer medicamentos ou suplementos que você costuma tomar.
Mudanças para a gestante
A produção de hormônios na gestação, que começa logo no primeiro mês, é um assunto bastante complexo, explica Rodrigo Buzzini, ginecologista e obstetra e diretor do Grupo Santa Joana.
“A produção hormonal, especialmente do HCG [que serve como indicador da gravidez], é muito intensa. Para ter um parâmetro, no começo os níveis duplicam a cada 48 horas e continuam subindo até a décima segunda semana”, diz o especialista.
Essa mudança pode causar sonolência, enjoo e dar à pessoa mais vontade de ficar reclusa, sem participar de muitas atividades. “Mas isso vai depender da individualidade de cada paciente, levando em conta suas características biológicas e ambiente psíquico”, aponta o médico.
Algumas pessoas também sentem alterações no apetite — que podem incluir aumento da fome, mas também aversão à comida.
É necessário, no entanto, de acordo com os médicos consultados pela BBC News Brasil, que a gestante continue se alimentando normalmente, da mesma forma que uma pessoa que não está grávida, mas levando em consideração que o bebê estará recebendo os efeitos positivos ou negativos dependendo da alimentação.
Desenvolvimento do bebê
Nesta fase, o feto tem apenas 0,1 a 0,2 milímetros e é chamado de blastocisto. Com três semanas de gestação, o material genético já está desenvolvido e o sexo natural é determinado, ainda que não seja possível identificá-lo por exames médicos.
Com a suplementação de ácido fólico durante até 12 semanas, o risco de problemas como anencefalia, espinha bífida, fechamento do tubo neural e problemas de formação do feto são reduzidos significativamente.
Mês 2 (5 a 8 semanas)
Se for sua primeira visita ao médico — algumas mulheres não descobrem a gravidez no primeiro mês —, você receberá pedidos para os exames citados anteriormente.
O ganho de peso e a pressão arterial também serão medidos e monitorados.
“Na sexta semana, já é possível realizar um ultrassom por via transvaginal que é quando conseguimos ver o saco gestacional e avaliar as estruturas que indicam se a gestação está evoluindo bem”, diz Ellen Freire, ginecologista e obstetra do Fleury Medicina e Saúde.
Mudanças para gestante
De acordo com Freire, a mulher pode não sentir nada, mas para parte das gestantes, é nessa fase que os sintomas “típicos” da gravidez se intensificam.
“Elas podem apresentar queda de pressão, náusea e vômitos constantes. Recomendamos redobrar os cuidados da alimentação e não fazer automedicação.”
Desenvolvimento do bebê
“Entre cinco e seis semanas, a pequena ‘semente’ já tem 5 milímetros. Algumas gestantes perguntam como uma mudança minúscula causa um efeito tão notório? É porque o corpo entrou no modo gravidez”, explica a médica.
As características faciais continuam a se formar, assim como dedos e olhos. O tubo neural, estrutura embrionária que dará origem ao cérebro e à medula espinhal, já está bem formada agora. O trato digestivo e os órgãos sensoriais também começam a se desenvolver.
A partir da sexta semana, o coração do embrião começa a bater. “Conseguimos captar no ultrassom e é um momento de bastante emoção, é normalmente quando ‘cai a ficha’ para os pais. Além de ser bacana para o casal, é um sinal de boa gestação”, aponta Freire.
Mês 3 (9 a 12 semanas)
É hora de voltar ao consultório, onde o médico vai ouvir possíveis queixas e tirar dúvidas da gestante.
“Solicitamos o ultrassom morfológico do primeiro trimestre que nos mostra detalhes importantíssimos do feto em relação a placenta, formato e crescimento do bebê — que já deve ter o dobro do tamanho do primeiro ultrassom — e para a avaliação de riscos de possíveis síndromes”, esclarece Buzzini.
Mudanças para a gestante
Os seios da gestante crescem e as aréolas ficam mais escuras. A depender da tendência pré-existente em algumas mulheres, acnes podem surgir. O apetite pode começar a voltar e os primeiros “desejos de grávida” aparecem.
“A barriga também começa a despontar e fica difícil não perceber a gravidez”, afirma Freire.
Desenvolvimento do bebê
No final do terceiro mês, o feto tem cerca de 10 centímetros de comprimento e costuma pesar por volta de 28 gramas.
Os braços, mãos, dedos, pés e dedos já estão totalmente constituídos. Unhas aparecem e dentes começam a se formar sob a gengiva.
Os órgãos reprodutivos também se desenvolvem, mas ainda é difícil de distinguir o sexo do bebê no ultrassom. Os sistemas circulatório e urinário estão funcionando e o fígado já produz bile.
Nesta fase, o feto está começando a explorar um pouco o seu ambiente, fazendo coisas como abrir e fechar os punhos e a boca. “Ele já tem um bom movimento e é possível ver membros, a depender se o ultrassonografista vai conseguir reproduzir a imagem e a posição do feto”, aponta o médico Rodrigo Buzzini.
Segundo trimestre
Mês 4 (13 a 16 semanas)
A gestante chega quase à metade da gravidez. Esse período é um marco importante na gestação: é possível descobrir o biológico sexo do bebê em um ultrassom. Pela formação mais avançada do feto, as chances de haver aborto caem significativamente.
Mudanças para gestante
O coração da mãe bombeia sangue mais rápido para suprir seu corpo e o do bebê, e por isso sinais como tontura e falta de fôlego são comuns. Ela também pode sentir prisão de ventre e dores nas costas pelo crescimento do feto.
Desenvolvimento do bebê
“Os órgãos estão quase completamente formados e o batimento cardíaco fetal pode agora ser audível através de um instrumento chamado doppler”, diz Buzzini.
Aparecem pálpebras, sobrancelhas, cílios, unhas e cabelos. Dentes e ossos ficam mais densos.
O feto já pode realizar ações como chupar o polegar, bocejar, se esticar e fazer caretas. O sistema nervoso está aos poucos começando a funcionar.
“A genitália já está formada, então, a depender posição do feto no ultrassom, já é possível descobrir o sexo. O feto também já apresenta possível sensibilidade à luz e sons”, afirma o ginecologista.
Mês 5 (17 a 20 semanas)
No final do quinto mês a gestante passa pelo segundo exame morfológico — que é tão importante quanto o primeiro para avaliar o bom desenvolvimento do feto.
Mudanças para gestante
A maioria das mulheres já ganhou de 2,5 a 6,5 quilos a essa altura, e o útero está do tamanho de um melão. Pelo aumento da barriga, o umbigo pode sair para a parte externa.
O apetite pode aumentar e algumas mulheres experimentam o esquecimento, chamado de “pregnancy brain” em inglês. Durante essa fase, as grávidas podem ter dificuldade para se lembrar de detalhes ou para se concentrar em tarefas.
Desenvolvimento do bebê
“O feto já consegue ter sensações e ouvir, por isso e recomendamos ouvir música e conversar, para fazer a interação do meio extrauterino”, comenta Buzzini.
No ultrassom, o especialista checa os órgãos, com detalhamento cardíaco, de bexiga, rins, entre outros, e conta os dedos do bebê, que pode se mexer enquanto a mãe sente, simultaneamente, os movimentos de estender os membros.
Mês 6 (21 a 24 semanas)
“Conforme a gestante se aproxima do fim do segundo trimestre, é importante ouvi-la para que ela não se sinta fragilizada — e sempre exaltar a gravidez como um processo rico, natural, bonito, bem desenhado”, opina Buzzini.
Mudanças para gestante
“É bem documentado que há uma frequência grande de distúrbios hipertensivos e de tireoide nessa fase, então fazemos uma checagem”, indica o médico.
A maioria das mulheres também é testada para diabetes gestacional, condição metabólica exclusiva da gestação, causada pelo aumento da resistência insulínica devido aos hormônios da gravidez.
Desenvolvimento do bebê
No útero, é feito um ecocardiograma fetal, ultrassom específico para o coração do feto. O bebê já tem mais de 1 kg, e suas movimentações costumam ser sentidas de forma cada vez mais intensas pela gestante.
Mês 7 (25 a 28 semanas)
Começam as conversas entre gestante e profissionais de saúde sobre o planejamento do parto e sinais de alerta.
Mudanças para gestante
Com um feto de aproximadamente um quilo, a mãe já está mais pesada e pode se sentir cansada.
“Algumas pacientes comentam que sentem a barriga mexer de forma ritmada — isso é o soluço do bebê, e é completamente normal”, comenta Rodrigo Buzzini.
Desenvolvimento do bebê
O feto continua a amadurecer e a desenvolve reservas de gordura corporal. O líquido amniótico começa a diminuir. Se nascer prematuramente, as chances do bebê sobreviver aumentam após o sétimo mês.
Terceiro trimestre
Mês 8 (29 a 32 semanas)
As famílias entram na contagem regressiva para a chegada do bebê enquanto a gestante passa pelos exames clássicos de rotina — como análise do sangue, urina, checagem do peso e pressão arterial.
Mudanças para gestante
A mãe continua a ganhar cerca de meio quilo por semana e pode sentir desconforto quando o bebê se mexe. Como ele já pode pesar até dois quilos, é possível que seus movimentos façam pressão na caixa torácica da gestante. Ela pode ter dificuldade em manter o ritmo das atividades cotidianas e se tornar mais introspectiva.
Desenvolvimento do bebê
Os pulmões e o sistema nervoso estão em fase de amadurecimento final e o risco de prematuridade extrema já não existe.
Mês 9 e mês 10 (33 a 40 semanas)
As consultas viram quinzenais ou semanais. Uma gestação pode entrar em até um décimo mês — mas a partir de 37 semanas o bebê já está bem formado e não é mais considerado prematuro.
Nessa reta final, os médicos pedem exames de preparo para momento do parto.
É feita a análise de sangue, urina, e checagem se há presença de estreptococo do grupo B, principal agente causador de sepse (complicação potencialmente fatal de infecção) precoce em recém-nascidos.
Se for a vontade da gestante, o profissional de saúde avalia as chances do parto normal — mas a avaliação não é definitiva, ou seja, podem haver mudanças no dia da chegada do bebê.
Mudanças para a gestante
Conforme o bebê vai entrando em posição mais favorável ao parto, a mãe pode sentir alívio na descompressão dos órgãos e respirar com mais facilidade.
Desenvolvimento do bebê
Os pulmões do bebê estão na fase final de amadurecimento, e o cérebro já cresceu muito e está pronto para começar a receber os estímulos do mundo externo. O bebê nasce com cerca de 50 centímetros de comprimento e pode pesar entre 2,5 e 4 quilos.
- Giulia Granchi
- Da BBC News Brasil em São Paulo