Mesmo com 14 milhões de pessoas em situação de extrema pobreza, parlamentares se valem de privilégios para comer em restaurante caros
Enquanto 14 milhões de pessoas vivem na extrema pobreza no Brasil, parlamentares se valem de privilégios para almoçar, jantar e promover eventos em restaurantes de luxo. Um levantamento da BandNews FM aponta, por exemplo, que o senador e ex-presidente Fernando Collor, do PROS, gastou R$ 22.806,00 em uma “festa” para 97 pessoas, com direito a caipirinha e cerveja.
O evento ocorreu no fim de agosto na Churrascaria Fogo de Chão, na Asa Sul, em Brasília.
As despesas não são ilegais – estão dentro da chamada cota parlamentar -, mas não refletem o dia a dia da maioria dos brasileiros, que nem sequer conseguem colocar carne na mesa.
Outro senador, Carlos Portinho, do PL, promoveu um jantar com o secretário de Planejamento e Gestão do Rio de Janeiro no restaurante Gero, dentro do Hotel Fasano, na capital fluminense.
A conta saiu R$ 1.302,00 – R$ 1.100,00 reembolsados pelo Senado -, com direito a pratos como Spaguetti à Carbonara, Ravioli, Risoto, sobremesas e cafezinho.
Um mês depois, Carlos Portinho gastou mais R$ 1.077,00 em outro jantar, em um restaurante japonês com a equipe jurídica, na Asa Sul. Seis ostras saíram por R$ 144,00, sem contar os pratos com polvo, camarão e salmão.
Em São Paulo, Alexandre Giordano, do MDB, gastou em duas churrascarias R$ 1.742,00 para oito pessoas, devidamente reembolsados pelo Senado. Apenas uma picanha fatiada custou R$ 242,00; a fraldinha saiu R$ 188,00.
O relator da CPI da Pandemia, Renan Calheiros, do MDB, frequentou com a equipe o restaurante Dom Francisco, em Brasília. Em três almoços, o senador gastou R$ 2015,00; só um prato de bacalhau na brasa saiu R$ 270,00.
No total, os 81 senadores gastaram com alimentação, locomoção, hospedagem e combustíveis – alguns têm os próprios jatinhos – R$ 3.237.567,64 entre janeiro e setembro, um aumento de 27% em relação a 2020.
Na Câmara, no mesmo período, as despesas dos 513 deputados com os mesmos itens somaram R$ 49.682.541,31 – uma alta de 5% na comparação com o ano passado.
Para o fundador e secretário-geral da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco, os privilégios são muitos – todos pagos com o nosso dinheiro.
Uma das despesas que chama muito a atenção – já divulgada – foi feita por Cid Gomes, do PDT.
Ele fretou um jatinho em março para se deslocar de Fortaleza para Salvador – ida e volta – ao custo de R$ 54.552,00.
A nota não traz detalhes de quem viajou no avião; uma passagem para o mesmo destino custaria hoje R$ 1.600,00.
Em nota, a assessoria do senador Carlos Portinho afirmou que o senador não está entre os que mais gastam com alimentação e que os jantares citados na reportagem deram continuidade a reuniões de trabalho sobre projetos que reverteram em riquezas muito superiores ao Estado do Rio de Janeiro.
Esclarece ainda que o parlamentar é autor da proposta que impede o suplente que assumir o mandato – assim como aconteceu com ele – de usar a sobra de recursos não utilizados nos meses anteriores.
Questionado, o gabinete do senador Giordano disse que todos os pedidos de ressarcimentos são feitos em respeito às normas legais, estando restritos a compromissos de natureza política, funcional ou de representação parlamentar.
A assessoria de Renan Calheiros, por sua vez, esclareceu que os três almoços no restaurante Dom Francisco foram feitos com a equipe durante os trabalhos na CPI da Pandemia, totalizando cinco pessoas.
Fernando Collor justificou que os gastos são feitos de acordo com as regras do Senado “em atividade de representação parlamentar”.
Procurado, Cid Gomes não se pronunciou.
Rádio BandNews FM