25 de Julho de 2020
No dia 06 de maio, eu Ivan Rodrigues, enfermeiro, cheguei em Manaus para trabalhar no combate ao novo coronavírus na linha de frente com mais duas centenas de profissionais de saúde entre enfermeiros, médicos, biomédicos, fisioterapeutas e técnicos de enfermagem convocados pelo Ministério da Saúde na ação Estratégica Brasil Conta Comigo.
Quando comecei a atuar no Hospital Dr. Aristóteles Platão, na famosa zona leste da cidade, comecei a estudar os prontuários dos atuais e ex-pacientes que vieram a óbitos pela Covid-19.
Entre os atuais pacientes internados no segundo andar, mais conhecido como ENFERMARIA COVID ,e, os da UTI; de abril a julho, analisando mais de cem prontuários, vi que o fator de comorbidade tinha uma prevalência de 80 a 87% nesses pacientes dos quais foram a óbitos. Veja uma amostragem em tabela abaixo.
Os poucos pacientes, de 13 a 20%, que não apresentavam comorbidades: diabetes, hipertensão, cardiopatias, asma, doença pulmonar obstrutiva crônica, ou seja, doenças crônicas mais comuns, eram os pacientes, que na grande maioria evoluíam com melhoras significativas da Covid-19.
Os demais, que possuíam alguma comorbidade eram os que aumentavam as estatísticas dos Boletins Epidemiológico diários de Manaus.
Ao meu ver, o governo deixava de informar a população de forma correta, perdendo também, uma grande oportunidade de um trabalho preventivo de conscientização quando divulgava os números sem explicar o quadro clínico dos pacientes que vieram a óbitos no dia, tantos eram hipertensos, tantos eram diabéticos, tantos eram cardíacos…
Sem isso, a população ficou sem orientações de prevenção, e principalmente apavorada diante de tantas desinformações da mídia sensacionalista.
Nós como exemplo, dos 281 profissionais que estiveram em Manaus no combate ao coronavírus, nem 10% foram contaminados, e os que foram infectados se recuperaram, apenas uma permanece internada em boa evolução diária.
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), as doenças crônicas não transmissíveis são responsáveis por 63% das mortes no mundo. No Brasil, são a causa de 74% dos óbitos.
A Covid-19 é letal para essa parcela da população que possui comorbidades, e realmente precisa ter maiores cuidados. Se você não compõem ou não se enquadra nesse grupo de risco, dificilmente estará nos próximos Boletins Epidemiológico.