10 de Fevereiro de 2020
Gesiane Buriola da Silva, de 32 anos, teve as duas mãos decepadas pelo marido com o uso de um facão em abril de 2017.
Pentear o cabelo, lavar louça e digitar mensagens no celular são algumas atividades que Gesiane Buriola da Silva, de 32 anos, está voltando a fazer quase três anos depois de ter tido as mãos decepadas pelo marido, em Campo Novo do Parecis, a 397 km de Cuiabá.
As próteses foram presentes de amigos que fizeram uma vaquinha online e conseguiram arrecadar R$ 114 mil para pagá-las. Os aparelhos foram colocados na sexta-feira (7), em Cuiabá.
“Estou muito feliz, pois agora vou conseguir fazer minhas coisas sozinha. Essa foi a segunda vaquinha que fizeram e durou oito meses. Da primeira vez não conseguimos dinheiro suficiente”, explicou.
Ao G1, Gesiane contou que pentear o cabelo era uma das atividades que ela ainda precisava da ajuda de amigos e familiares, o que a deixava triste. Com as próteses, ela já consegue fazer isso sozinha.
“Está difícil, mas aos poucos estou voltando a fazer tudo que fazia antes. Sem as mãos, consegui me adaptar para fazer o serviço de casa, mas algumas coisas ainda eram difíceis. As próteses vão me ajudar muito”, disse.
Agora, segundo Geisiane, é preciso do acompanhamento de um fisioterapeuta para ter o controle das mãos.
“O nervo ficou muito tempo parado e agora preciso de ajuda médica para voltar a mexer. A fisioterapia é duas vezes por semana, mas preciso me organizar ainda por causa do gasto com o transporte”, contou.
Autoestima
Apesar de estar feliz por ter ganho as próteses, Geisiane afirmou que já chorou muito com medo do preconceito e de não conseguir fazer tudo que gostaria.
“Quando olhei para as mãos, chorei pensando que não conseguiria mexer, chorei por não conseguir fazer minhas coisas como gostaria, e por medo de sair na rua e as pessoas rirem de mim”, relatou.
Com o apoio dos amigos, Geisiane afirmou que conseguiu usar as mãos e passou a gostar mais de si.
“Fiquei triste no começo, mas quando vi as fotos me animei. Fiquei mais bonita e já até coloquei unhas postiças. É estranho, mas aos poucos vou me acostumando”, afirmou.
Planos
Geisiane, que trabalhava como diarista antes de perder os membros, atualmente, mora sozinha e recebe apenas um salário-mínimo como beneficio do governo.
Ela afirmou que se mudou de Campo Novo do Parecis para uma cidade de Mato Grosso que, por medo, ela prefere não revelar.
“Saí da cidade, pois não quero ter lembranças. Lá foi onde tudo aconteceu e ainda não saiu da minha mente. Tenho trauma e, apesar de que agora estou longe dos meus filhos, me sinto mais segura aqui”, contou.
Desde que perdeu os membros, os filhos de Geisiane, de 8 e 13 anos, passaram a morar com a avó. Todos os meses, parte do beneficio que a vítima recebe do governo, é destinado para as crianças.
O objetivo agora, segundo Geisiane, é se adaptar o mais rápido possível com as próteses para conseguir trabalhar e ajudar os filhos.
“Não pretendo trabalhar fora, mas quero fazer algo em casa para ganhar um dinheiro extra e ajudar minha família. Agora mesmo meus filhos precisam de materiais escolares e não sei como vou comprar”, disse.
Atualmente, ela conta com doações em dinheiro e cestas básicas.
O crime
As duas mãos de Geisiane foram decepadas pelo marido com o uso de um facão em abril de 2017. À polícia, Jair da Costa alegou que saiu para beber com os amigos e, quando voltou, encontrou a mulher com outro homem.
Com ciúmes, ele agrediu a mulher, que tentou correr para a rua. Em seguida, Jair pegou um facão e correu atrás dela.
Ao tentar proteger o rosto com as mãos, elas foram cortadas. O criminoso ainda deferiu golpes no rosto da vítima, cabeça e abdômen.
Ele chegou a fugir, mas foi preso em flagrante pela Polícia Militar e, em depoimento confessou o crime e confirmou a intenção de matar Geisiane.
No dia 12 de julho de 2019, Jair foi a júri popular. Ele foi condenado a 15 anos e seis meses de prisão, por tentativa de homicídio e feminicídio em regime fechado, sem direito ao apelo em liberdade.
Presos já tentaram por diversas vezes matar Jair da Costa que tem pedido “seguro” temendo morrer, segundo o agente penitenciário Antônio.
G1 Mato Grosso com informações também do site Saúde & Direitos Sociais