12 de Janeiro de 2020
Se seu cão está vivo há mais de uma década, a crença generalizada é a de que ele envelheceu tanto quanto um humano ao longo de 70 anos. Esse fator de conversão — com cada ano de vida de um cão sendo tratado como equivalente a sete anos humanos — vem da divisão da expectativa de vida humana de cerca de 77 anos pela expectativa de vida canina de cerca de 11.
A suposição é que cada ano que um cão vive é equivalente a sete anos humanos em qualquer estágio da vida do animal. Mas novas pesquisas sugerem que as coisas não são tão simples. E, se olharmos para alguns marcos básicos do desenvolvimento, fica claro o motivo.
Por exemplo, a maioria das raças de cães atinge a maturidade sexual entre seis e 12 meses — o teto desse intervalo corresponderia, tradicionalmente, a uma idade humana de 7 anos. E no outro extremo do espectro, embora incomum, sabe-se que alguns cães vivem por mais de 20 anos. Sob a regra de conversão do “fator sete”, isso equivaleria a um ser humano de 140 anos.
Para tornar as coisas mais complicadas, a expectativa de vida dos cães depende significativamente da raça. Cães menores tendem a viver significativamente mais, sugerindo que envelhecem mais devagar do que os cães maiores.
Tudo isso levanta a questão do que exatamente queremos dizer com idade. A maneira mais óbvia de descrevê-la é simplesmente o período de tempo decorrido desde o nascimento. Isso é conhecido como definição cronológica de idade.
No entanto, existem outras descrições. A idade biológica, por exemplo, é uma definição mais subjetiva, que depende da avaliação de indicadores fisiológicos para identificar o desenvolvimento de um indivíduo. Isso inclui medidas como o “índice de fragilidade” — pesquisas que levam em consideração o status da doença de um indivíduo, deficiências cognitivas e níveis de atividade.
Depois, existem os biomarcadores de envelhecimento mais objetivos, como níveis de expressão gênica (genes que produzem proteínas em taxas diferentes em diferentes estágios da vida) ou o número de células imunes. A taxa na qual a idade biológica aumenta depende de fatores geneticamente herdados, como saúde mental e estilo de vida.
Por exemplo, se você passou muito tempo comendo junk food e fumando cigarros em vez de se exercitar e comer de maneira saudável, é provável que sua idade biológica exceda sua idade cronológica. Ou então você pode ter 60 anos e um corpo de 40, se tiver se cuidado bem.
A vida de um cachorro
Quando se trata de comparar a idade dos animais entre as espécies, as definições biológicas de idade são muito mais úteis do que suas contrapartes cronológicas.
Saber que um hamster tem seis semanas de vida não oferece uma boa ideia da fase de vida desse animal, mesmo que você saiba que a expectativa de vida de um hamster é de apenas três anos. Aprender que um hamster atingiu uma idade em que pode se reproduzir oferece uma imagem muito melhor do seu nível de maturidade.
Os autores do novo estudo de envelhecimento sugerem que uma maneira sensata de medir a idade biológica é o chamado “relógio epigenético” — medido por mudanças químicas no nosso DNA que deixam “marcas” ao longo do tempo.
Em particular, a “metilação” — a adição de grupos metil (um átomo de carbono ligado a três átomos de hidrogênio) ao DNA — parece ser um bom indicador da idade. Muitos marcadores fisiológicos importantes, como o desenvolvimento dos dentes, parecem ocorrer nos mesmos níveis de metilação em diferentes espécies. Assim, combinando os níveis de metilação em labradores e humanos, os pesquisadores derivaram uma fórmula para mapear a idade do cão com seu equivalente humano.
Essa fórmula é: idade equivalente humana = 16 x ln (idade cronológica do cão) + 31.
Aqui “ln” representa uma função matemática conhecida como logaritmo natural. A função logarítmica é utilizada nas escalas não lineares para mensurar a energia liberada durante terremotos (Richter) ou para medir o som (decibéis).
É útil também para medir quantidades cujos tamanhos variam em diferentes ordens de magnitude. É até possível que uma experiência logarítmica da passagem do tempo explique por que percebemos o tempo acelerando à medida que envelhecemos.
No gráfico acima, você pode ver como o logaritmo natural funciona para converter os anos em que um cão viveu (idade do cão) na idade humana equivalente na curva tracejada vermelha. A curva sugere que os cães amadurecem extremamente rapidamente no início, mas que o envelhecimento diminui, o que significa que a maior parte de suas vidas é vivenciada como uma forma de meia-idade prolongada.
Um atalho útil é lembrar que o primeiro ano do cão conta por 31 anos humanos. Depois disso, toda vez que a idade cronológica do cão dobrar, o número de anos humanos equivalentes aumentará 11. Portanto, oito anos representam três “duplicações” (de um a dois, dois a quatro e depois de quatro a oito) dando a um cão idade equivalente a 64 anos (31 + 3×11).
Essa aproximação útil é representada pela curva preta na figura abaixo. A linha verde representa a regra do fator 7, que sugere idades irreais no extremo superior do espectro da idade canina.
A maioria dos amantes de cães já deve ter suspeitado que a relação entre idade de humanos e cães não é linear, tendo notado que, inicialmente, seus animais de estimação amadurecem muito mais rapidamente do que sugere a regra linear do fator 7.
Um refinamento mais sofisticado das regras do fator 7 sugere que cada um dos primeiros dois anos do cão corresponde a 12 anos humanos, enquanto todos os anos subsequentes contam para quatro equivalentes humanos. A curva azul na figura acima, que representa essa regra, mostra a melhor concordância com a nova lei logarítmica.
Na prática, os novos insights moleculares sobre a conversão da idade humana para a de cães encapsulados pela lei logarítmica sugerem que os cães passam para a meia-idade ainda mais rapidamente do que a maioria dos donos suspeitaria.
Vale lembrar que, quando você descobrir que o Rex está relutante em perseguir a bola como antes, provavelmente ele tem mais quilometragem do que você imagina.
*Christian Yates é professor sênior em biologia matemática na Universidade de Bath, no Reino Unido. Ele também é autor de The Maths of Life and Death (As matemáticas da vida e da morte, em tradução livre).
Este artigo foi originalmente publicado no The Conversation e republicado sob uma licença Creative Commons.