O “jeitinho brasileiro” é um eufemismo, um “jeito carinhoso” de expressar a habilidade que alguns brasileiros têm de ludibriar o outro, de driblar as regras e tirar vantagem das situações. É muitas vezes dito como sinônimo de esperteza, adaptabilidade às situações complexas que se impõem em um país onde a vida sempre foi mais difícil que fácil. Onde é preciso saber se virar pra conseguir fechar o mês.
Embora alguns justifiquem que, sem dar um “jeitinho”, as coisas não andam no Brasil, quando a maior parte de uma sociedade tem essa habilidade de tirar vantagem do próximo, o país colapsa, as instituições deixam de ser confiáveis, os custos de vida e do funcionamento social aumentam, os riscos aumentam, a sensação de insegurança é perene, não existe confiança e a palavra não tem valor.
Infelizmente é nessa sociedade que estamos. Talvez pareça demasiada para muitos a expressão do psiquiatra Delfino que afirma que “vivemos em um mundo de ladrões” mas ninguém que eu conheço se sente seguro de reaver seu smartphone esquecido em um local público, ou a carteira com o salário do mês inteiro dentro. Apesar de os dados individuais estarem todos ali, o brasileiro comum, com suas exceções, dificilmente tem de volta os seus pertences.
Já existem grupos de pessoas que querem mudar esse costume de dar um jeitinho; que não vêem vantagem na malandragem mas valorizam o verdadeiro talento ou habilidade e adotam um sistema meritocrático. Que não agradecem a Deus por receber o troco a mais. Que adotam práticas mais burocráticas (infelizmente) porém mais honestas. Espero ver esses poucos um dia se tornarem a maioria, que a honestidade entre na moda e que o nosso país tenha vergonha da expressão “jeitinho brasileiro”, que o brasileiro “cordial” aprenda que a lei é para todos e que essa conduta mais honesta e moral se reflita nas nossas instituições assim como hoje elas refletem o malandro, o jeitinho o “toma lá, dá cá”.