Por Kiko Nogueira
Vivendo num mundo à parte e não num país quebrado, procuradores ganham aumento de 16%.
O Conselho Superior do Ministério Público, uma espécie de Liga da Justiça da vida real, aprovou um aumento de 16,7% nos salários dos procuradores, uma antiga reivindicação da categoria.
O impacto, informa a Agência Brasil, será de 116 milhões de reais.
Três dos 11 conselheiros foram contra. Rodrigo Janot votou a favor, apesar de classificar a medida uma “decisão política” encampada por sua sucessora, Raquel Dodge, que assume a PGR em setembro.
O que é essa decisão política, Janot não explicou. Presume-se que a nova chefe esteja querendo agradar sua galera e passar um recado de que eles estão acima dos demais brasileiros.
Porque, ao fim e ao cabo, é onde eles estão: num outro patamar, numa liga superior, que se acha no dever absoluto de subir o ordenado em um país em recessão.
Afinal, eles estão nos salvando do demônio da corrupção. Em nome disso, tudo é permitido.
Ficamos com o seguinte roteiro: o PT quebrou o Brasil; o Brasil não tem dinheiro, precisamos fazer reformas; o MP aprova aumento para seus membros; epa, epa, epa.
Com isso, é possível que o vencimento da turma ultrapasse o teto constitucional, uma vez que o STF decidiu não fazer a mesma coisa.
Os ministros ganham R$ 33,7 mil, o maior salário permitido a servidores públicos.
O detalhe capital: não ficou definido de onde se vai tirar para dar aos dallagnois.
Janot e Raquel vão montar um grupo de transição para apontar a fonte.
Não é só isso: o orçamento da Lava Jato em Curitiba foi de R$ 522,6 mil para R$ 1,65 milhão. Os recursos são destinados, sobretudo, para custear gastos com diárias e passagens.
O vice-procurador-geral da República, José Bonifácio de Andrada, atendeu integralmente o que havia sido solicitado pelos savonarolas da capital do Paraná.
Repito: integralmente. Ora, mas é muito atrevimento achar que seria diferente.
Segundo Bonifácio, a ideia é enviar uma mensagem positiva para “a sociedade e a mídia” — sim, antes dos interesses nacionais, vêm os interesses da imprensa.
Os procuradores vivem num mundo à parte, aquele mesmo habitado pelo traficante filho da desembargadora que saiu da cadeia para passear numa clínica.