O homem que pretende fazer fortuna nesta capital deve ser um camaleão capaz de refletir as cores da atmosfera que o circunda – um Proteus capaz de assumir qualquer forma. Deve ser sutil, flexível, insinuante, secreto, inescrutável, frequentemente egoísta, às vezes sincero, às vezes pérfido, sempre escondendo parte do seu conhecimento, comprazendo -se em um só tom de voz, paciente, senhor perfeito de suas atitudes, frio como o gelo quando qualquer outro homem se inflamaria; e se, infelizmente, não for religioso – ocorrência muito comum em almas possuidoras dos requisitos acima -, deve ter a religião na mente, isto é, no rosto, nos lábios, nos modos; deve suportar em silêncio; se for um homem honesto, a necessidade de se saber um consumado hipócrita. O homem cuja alma odiaria tal vida deve deixa-la e buscar fortuna em outro lugar. Não sei se estou tecendo louvores a mim mesmo ou me desculpando, mas de todas essas habilidades só possuo uma – isto é, a flexibilidade. Renan Viana.