O título é uma grande provocação para raciocinarmos sobre as doenças evitáveis em nosso ambiente.
A revista Science de sexta-feira (02/09) indica que a vacina contra a dengue leva a um aumento de casos graves e hospitalizações em quem nunca teve a doença.
Neste sentido onde a incidência da dengue não é tão alta, os pesquisadores defendem que testes sejam feitos para detectar se a pessoa foi infectada antes da imunização que já começou no Brasil. A base da discussão está no periódico científico Lancet.
Veja os estudos publicados em Science e Lancet.
Dengvaxia – vacina contra a dengue – é indicada para indivíduos de 9 anos a 45 anos. Esse limite de 9 anos é exatamente porque foram observadas reações nas crianças menores.
Os renomados pesquisadores dos Estados Unidos e da Inglaterra sugeriram que não é a idade (como foi imaginado anteriormente) que causa o aumento nos casos graves, mas a falta de contato com vírus. Pelo menos, essa é a hipótese mais provável.
Na Ásia, verificou-se um aumento nos casos de hospitalização e dengue severa entre crianças de dois e cinco anos que tinham sido vacinadas.
Não acreditando que a idade favorecia o aparecimento de casos graves, os pesquisadores fizeram várias modelagens matemáticas a partir dos testes e viram que a não infecção explicava melhor os resultados.
Há quatro variações (sorotipos) do vírus da dengue. Quem já foi infectado, fica imunizado apenas contra aquele determinado sorotipo, podendo contrair a doença se contaminado pelos outros três sorotipos. E a segunda infecção tende a ser mais grave.
A estáticas pós vacinação, realizadas na América Latina e na Ásia, verificou uma eficácia de 81,9% entre os participantes que já tinham tido dengue, enquanto a eficácia entre os que nunca tinham sido infectados foi de 52,5%.
A vacina agiu mais ampliando a imunidade pré existente de quem já teve a dengue do que aumentando a proteção em quem nunca teve.
Os riscos de casos graves não está presente apenas entre crianças de menos de 9 anos, mas para toda a população na qual a maioria das pessoas nunca teve contato com a dengue, afirma os pesquisadores.
Importa mais saber se a pessoa é soropositiva [se já foi infectada pelo vírus] do que saber a idade
Isabel Rodríguez, pesquisadora da Universidade Johns Hopkins, de Baltimore (EUA)
Entre os que já pegaram a dengue e que tomaram a vacina, a probabilidade de hospitalização e dengue grave é 90% menor em comparação com vacinados que nunca tiveram dengue, segundo o estudo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) só recomenda a introdução da vacina em lugares em que 70% ou mais da população já teve dengue, e não indica a vacina onde este número seja menor do que 50%.
Muitas vezes o primeiro contágio com a dengue é assintomático, e a pessoa não sabe se já teve a doença. Por isso, as estratégicas de vacinação levam em consideração os dados estatísticos, a chamada soroprevalência.
Posso tomar a vacina?
Não há contra indicação no uso da Dengvaxia. As pesquisas mostram que em regiões onde a grande maioria da população já teve dengue, a vacina garante redução de hospitalizações de 80,3%.
A decisão de tomar a vacina deve levar em consideração principalmente o local em que a pessoa mora ou planeja morar.
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O Nordeste indica uma exposição da população ao vírus da dengue em 90%. Já no Sul do país, a incidência é mais baixa em razão do clima, menos propício à proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença. As cidades brasileiras que estão participando das pesquisas clínicas da vacina possuem soroprevalência de 74%.