“Quem é Charles Augustus Milverton, Holmes? O maior canalha de Londres, Watson”, responde Sherlock Holmes. O maior detetive de todos os tempos não economizou no adjetivo ao qualificar o sujeito, cuja ocupação era achacar pessoas honradas.
Chamo também de canalhas, aqueles que maculam a honra alheia plantando mentiras em veículos de comunicação. A pistolagem moderna – mesmo que ainda existam pistoleiros – chama-se reportagem caluniosa, uma matéria jornalística, imputando um crime a alguém, sem nenhuma prova material. É de pensar que esses textos são feitos apenas por crápulas que escrevem em Blogs de aluguel. Mas não é. A prática está disseminada em grandes veículos de comunicação, que estão rompendo com as mais elementares regras do jornalismo. Não estou me referindo ao caso do ministro dos esportes, nem sobre comentários de leitores em artigos e matérias em geral.
Falo dos órgãos de imprensa que estão entrando no mesmo nível de marginalidade dos adversários que combatem; usando os mesmos métodos vergonhosos de seus acusados; a mesma prática suja dos homens públicos envolvidos em falcatruas, e isso é muito ruim. Governo é para apanhar. A imprensa tem que fiscalizar, escarafunchar, desmascarar, bater mesmo. Outra coisa é colocar pessoas honradas no mesmo saco dos sujos, imputando-lhes crimes para atingir outrem. Essa prática é mercenária.
Ninguém é ingênuo, ao ponto de pensar que órgãos de imprensa e jornalistas não têm lado e que, a verdade não seja sacrificada em nome de interesses, sejam eles quais forem. Mesmo nos EUA e Inglaterra, a imprensa age assim. O velho inescrupuloso, Rupert Murdoch, dono de um império de comunicações, é prova disso. A diferença é que, nesses países, a justiça funciona, e os caluniadores pagam caro por suas canalhices.
Costumo dizer em rodas de conversa, debatendo nossos problemas, que, no Brasil, você gira, gira, discutindo coisas e, no final, conclui que nossas desgraças são causadas pela ineficiência do nosso estado de direito. Nossa justiça é ruim, muito ruim. Não temos como deter a corrupção no Brasil, em suas múltiplas formas, se não punirmos as pessoas. A Inglaterra deu certo por isso, e a Grécia está agonizando por que é corrupta.
Difamadores de aluguel sempre existiram, jornais venais também. Há cinco séculos, um caluniador chamado Aretino vendia sua verve a quem pagasse mais. Era contratado por nobres para destruir a reputação de seus inimigos, com seus panfletos difamatórios.
Aretino chegou a ser apunhalado e espancado por suas vítimas, várias vezes.
A imprensa é livre e deve permanecer assim. Tudo que for visto de errado deve ser denunciado, principalmente na esfera pública. Mas o que fazer com os caluniadores e defensores de bandidos, contratados para espalhar mentiras, escondidos nas redações?
Infelizmente, o refúgio para esses canalhas, como diria o Dr. Johnson, no Brasil, é o poder judiciário, que, na sua incompetência, não os pune como deveria.
Que ninguém pense que estou atacando o trabalho fiscalizador da imprensa séria. Do mesmo jeito que bato em homens públicos corruptos, todas as semanas, neste espaço, é meu dever também acusar o jornalismo nefasto.
Shakespeare nos disse em Medida por Medida: “Nem a grandeza, nem o poder, neste mundo mortal, podem escapar da calúnia que fere pelas costas e ataca a mais branca das virtudes.”. E pergunta: “Que Rei é bastante poderoso para conter o fel de uma língua caluniadora?”. A resposta é, nenhum!
No passado, os ofendidos defendiam sua honra em duelos com pistolas, mas a lei proibiu a prática. Hoje, apenas os caluniadores podem usar pistolas e atirar pelas costas.
No Brasil, a justiça garante!
Autor: Theófilo Silva – colaborador